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Wednesday, November 26, 2014

O peixe Vermelho

Era uma vez (não é assim que se contam todas as histórias? Ou por ser peixe terei outras regras para começar uma história?)... Dizia eu: era uma vez... um peixe vermelho.

O peixe foi comprado numa loja cheia de cores com paredes de vidro ora cheias de água com peixes pretos e azuis, ora com peixes com uma espécie de cauda gigante em tons de roxo, ora com peixes laranja com umas riscas brancas e umas linhas pretas de fora que eram muito populares. Estes peixes laranja chegavam à loja tão depressa quanto saíam. Quando as paredes deles estavam vazias, logo se ouviam reclamações: "onde estão os nemos? Preciso de um nemo igual ao da semana passada". Nunca percebi porque é que queriam tantos nemos. Será que as paredes das casas daquelas pessoas são enormes e todas habitadas por nemos? Será que as pessoas gostam muito da combinação de laranja com branco e preto? Será que as pessoas conseguem falar com os nemos?

A loja também tinha umas paredes de vidro que as pessoas chamam de montra. Nessas paredes, estavam quase sempre cães castanhos claros e gatos pequenos com pêlo enorme, regra geral, brancos. Nunca crescem os cães e os gatos que vivem nas montras. Não sei se crescem nas casas das pessoas que os compram ou se não chegam a crescer, talvez as montras sejam mágicas. As pessoas parecem gostar mais de peixes do que de cães e de gatos. As pessoas entram e olham para os cães e gatos mas nunca compram 2 ou 3 gatos. A nós, peixes, chegam a comprar 5. Ouvi muitos números na loja, estava perto da máquina registadora e as pessoas gostam de números mas cada uma tem uma relação diferente com eles - as que estão atrás da máquina sorriem com números grandes e as que estão do outro lado parecem preferir números mais pequenos. Não percebo porque é que as pessoas gostam de números, os números não têm cores, são sons e não sei como são, ao contrário dos gatos e dos cães que têm pêlo e falam numa língua que não percebo mas falam.

Ainda não disse como eram as minhas paredes quando vivia na loja. As minhas paredes eram arredondadas e o chão por baixo das paredes tinha umas pedrinhas cinzentas, que cor horrível, queria tanto ter um chão verde como os nemos. As minhas paredes formavam assim uma espécie de suite mas muito solitária, vivia ali sozinho sem outros peixes iguais a mim. Eu sou um peixe vermelho e, na loja, não havia mais nenhum como eu. Talvez por eu ser diferente, quiseram colocar-me numas paredes também diferentes para verem-me melhor. Mas com a popularidade dos nemos, foi muito difícil repararem em mim.

Um dia, finalmente, a minha sorte mudou. Não haviam nemos e, segundo a senhora da bata azul, só viria um novo stock de nemos dali a 15 dias. O menino que vinha de mão dada com o pai apontou para mim e disse "eu gosto é daquele, vamos levar o verde". Coitadinho, deve ser daltónico mas, com o tempo, ele vai perceber que eu sou um peixe vermelho, talvez seja da luz da loja ou talvez esteja confuso com estas cores todas.

(continua, quando me lembrar do resto)



Friday, November 21, 2014

Cultura ou ausência dela?

É comum, nisto da cultura, trabalhar de graça. É comum, nisto da cultura, fazer estágios não remunerados até aos 30 anos. É comum, nisto da cultura, apresentarem propostas de - espera, como é que vou dizer o que estou a pensar, só um momento para acalmar e procurar o meu lado diplomata - propostas de ordenado mínimo a pessoas com doutoramentos como se fossem oportunidades fantásticas de crescimento. É comum, nisto da cultura, termos pessoas a trabalhar ao abrigo do 1º emprego quando já vão no 3º. É comum, nisto da cultura, mascarar recibos verdes de emprego.

Mas, nisto da cultura também é comum ter cargos de direcção com vencimentos iguais a de empresas não culturais. É comum, nisto da cultura, haver ordenados a sério, daqueles normais em que não é preciso contar os cêntimos para pagar a renda. É comum, essas pessoas que andam com iPhone numa mão, iPad na outra e BMW estacionado à porta, dizerem que o lugar que dirigem é assim, como dizer? Um lugar de cultura, sem fins lucrativos, estamos todos no mesmo barco (só que o meu barco é o metro e o deles é o assento do BMW) e pronto, têm que oferecer cargos séniores pelo valor de um estágio - literalmente. Na verdade, não é literalmente, são menos uns euros mas vamos arredondar as contas. Nisto da cultura, é comum baixarmos a cabeça, aceitarmos tudo com naturalidade porque temos culpa de fazermos o que gostamos. A culpa, afinal, é nossa. Quem nos mandou estudar isto de cultura? Que audácia é essa de ir trabalhar e gostar do que se faz? Era o que faltava! Fazes o que gostas? Então pagamos-te uma - espera, outra vez, um momento para não dizer o que estou a pensar - não resultou, temos pena - uma verdadeira merda. Vão-se todos lixar.

É isto a cultura? Então, se é isto, fiquem com ela e com as vossas oportunidades, façam vocês o trabalho que estão a pedir que vos façam porque eu, meus amigos da cultura, não o farei. Eu não vou contribuir para o vosso não sistema.

Friday, October 31, 2014

As maravilhas das notícias:

"Os trabalhadores que não estão aqui a protestar connosco, nesta greve, ficaram em casa a descansar que também têm direito."


“Nestas circunstâncias, quando é a comissária que escolhe o artista, o trabalho tem de ser de equipa, tem de haver cumplicidade e colaboração, temos de procurar ambos a melhor solução para o espaço que nos vier a ser destinado”, disse João Louro ao PÚBLICO.

Pois, nem sempre é o Estado a escolher os artistas para a Bienal de Veneza. Em 2013, a Direcção Geral das Artes escolheu a artista Joana Vasconcelos e depois o curador, Miguel Amado, demitindo o curador antes de o contratar - o trabalho do curador é, em primeira instância, seleccionar os artistas mas o Secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto de Xavier, saberá, certamente, muito melhor do que eu. A próxima edição será mais transparente do que a anterior? Como é que foi o processo de selecção de uma curadora Espanhola para a representação Portuguesa na Bienal de Veneza? Qual foi - se existiu, de todo - o processo de selecção?

Nada contra a escolha do artista que considero muito válida. Tudo contra o processo.

Thursday, October 30, 2014

A electricidade foi abaixo 5 vezes e o alarme tocou 5 vezes. Ou 3 ou 4 ou 6 ou 7, na verdade, não contei. O gato preto das patas brancas insiste em pensar que o vidro que separa o jardim da sala não é vidro, não tem matéria. As 300 páginas parecem-me 3000. O carregador do Mac prova, mais uma vez, que é meu amigo e volta a avariar para eu não ter que escrever muito mais. A electricidade e o Mac conspiram a meu favor e o gato, bom, o gato é um gato preto de patas brancas que me faz sorrir ao pensar que só pode ser ele o responsável pelas falhas de electricidade e alarme activado, pessoas a levantar a cabeça dos computadores o mesmo número de vezes que o alarme toca e a electricidade falha.

Friday, October 24, 2014


texto para copiar e colar em e-mails:

Muito obrigada pela atenção e generosidade em ter pensado em mim para fazer o trabalho (inserir denominação).

Compreendo perfeitamente as dificuldades económicas actuais em meio institucional, comercial e independente nas artes e cultura em geral. É precisamente nessa compreensão e, até identificação, que assenta a minha resposta e decisão de não aceitar fazer trabalho gratuito.

Com cerca de dez anos de experiência, dispenso (apesar de agradecer) os comentários paternalistas de "jovem" porque, felizmente, fiz um percurso académico e profissional que considero não estar aquém da minha chamada juventude trintona. Não sou elegível para estágios nem concursos ao abrigo do primeiro emprego logo, também não sou elegível para chamadas oportunidades não remuneradas.

Assim, e apesar de todo o interesse que tenho na ideia e convite que me endereça, sem remuneração, a minha resposta é, infelizmente, negativa.

Com os votos de maior sucesso na busca de alguém que corresponda às suas expectativas.

Com os melhores cumprimentos,

Thursday, October 16, 2014

A curadoria num novo patamar. Quase tão interessante como a existência de um museu do presunto.

As pessoas nas Bibliotecas parecem sofrer de problemas de visão mas parecem ter ouvido apurado e voz sempre pronta a funcionar.


“I see art as an exercise in thought that allows me to understand, in its complexity and at both a socio-economic level and at a subjective level, the historical moment in which I live.”
"Meet 2014 Creative Time Summit: Stockholm presenter Núria Güell! Güell uses her work as a means of political and social activism, believing that the communicative power of art can transform our reality and create a more democratic society. Through installation, archive, writing, performance, and video, she rethinks the ethics practiced by large institutions that govern our society, challenging established power systems and suggesting alternative methodologies."

Wednesday, October 15, 2014

Coisas que eu gostava de ter para o meu aniversário:

- paciência, muita paciência
- voltar a deslumbrar-me com as respostas das pessoas
- voltar a acreditar nas palavras das pessoas quando prometem alguma coisa
- voltar a acreditar que tudo é possível com trabalho
- ser indiferente a respostas idiotas e perguntas ainda mais idiotas
era uma vez uma instituição cultural que parecia uma repartição de finanças. espera, era uma vez um lugar estranho em que todas as instituições culturais pareciam uma repartição de finanças.

não haveria problema algum se as repartições de finanças apresentassem soluções em vez de problemas e se os funcionários não parecessem ter ovos por baixo das mãos e problemas graves de locomoção bem como de comunicação.

era uma vez um lugar muito estranho em que a cultura é uma coisa ainda mais estranha que nem as próprias instituições ditas culturais sabem entender.

Wednesday, October 8, 2014

"The grass is always greener / Græsset er altid grønnere" - Museet for Samtidskust, 10.10.2014 - 18.01.2015







Miguel Palma
Pays/scope, 2013
Colecção MUDAM Luxembourg, doação de Reginald Neuman
Fotografias Miguel Palma e Lieve van Loock

Para a exposição "The grass is always greener / Græsset er altid grønnere" - Museet for Samtidskust, 10.10.2014 - 18.01.2015

Tuesday, October 7, 2014

Los Carpenteros
2010, Fabric, metal, Variable dimensions 
Installation view of Drama at Turquoise Ivory Press Art + Books, Madrid. 
Photography: Paco Gómez / NOPHOTO. 
Courtesy: Ivorypress, Madrid.

Thursday, October 2, 2014

Se uma pessoa é exuberante e extrovertida, não se pode, é uma maçada, que incómodo esta pessoa sempre a querer ouvir-se e ainda por cima fala tão alto e ri-se às gargalhadas e o decote, um horror.

Se uma pessoa é (aparentemente) calma e paga para não ser notada, não se pode, é uma maçada, que incómodo esta pessoa que não sabe impor-se e ainda por cima fala baixo e pausadamente e vestida assim simplezinha, que tédio, tão calma que enerva. Apagada é que ainda não tinha ouvido.


Thursday, September 25, 2014

quando ouço um grupo de pessoas a dizer mal de uma ou várias pessoas com um ar muito aziado, numa correria a ver quem consegue atirar mais pedras a quem não está presente para se defender, é mais ou menos isto que vejo:

esculturas e © Sophie Dickens 

Wednesday, August 27, 2014

Numa manhã de Verão em Lisboa, alguém contava-me que, algures em NY, numa espécie de Jardim Botânico, tentam, a todo o custo, preservar uma planta rara, do Brasil. Levaram-na do Brasil para os Estados Unidos e esta planta mudou com a mudança geográfica. As folhas ficaram gigantescas e só há este exemplar que veio do Brasil mas já não é a planta do Brasil nem nenhuma planta dos Estados Unidos. Os botânicos do Jardim tratam-na com veneração, esta planta tão especial, retirada do seu lugar, da sua casa, uma planta que agora é enorme, num limbo entre alguma coisa e coisa alguma.

Na mesma manhã, alguém dizia-me da sua dificuldade em viver entre NY, Berlim e Lisboa. Lembrei-me da minha outrora facilidade em adaptar-me a quaisquer ambientes. Dizia, nessa altura, com orgulho, que a minha casa era precisamente onde não estava em casa, em qualquer lugar algures entre um e outro lugar. Como a planta do Brasil nos Estados Unidos, também eu mudei, com as mudanças de lugar em lugar, e sinto cada mudança das minhas raízes com taquicardia. Como a planta, também eu mudei, mas talvez para muito mais pequena.

Thursday, August 14, 2014

Life coach? Então agora treina-se para viver?

Já li, já percebi o conceito. Talvez a intenção seja boa, há pessoas que precisam de conselhos. Corrigindo, todas as pessoas precisam, mais ou menos vezes, dependendo dos momentos da vida e da sua essência, de conselhos. Mas daí a ter uma espécie de treinador (não é o mesmo do que terapia / psicologia que respeito e admiro, se não for uma dependência para toda e qualquer decisão de vida) que pregue como é suposto vivermos (regra geral, olhando para o lado positivo, pensar positivo ajuda sempre muito e meditar, meditar muito, faça chuva ou faça sol) parece-me uma ideia tão estúpida como ir confessar-me a alguém, sobre o que quer que seja.

Tuesday, August 12, 2014

Fizesse eu (ou faça eu) o raio do pós-doc e escrevo as crónicas do "queremos muito um projecto cultural mas não temos dinheiro". O sub-título será "não há dinheiro, não há palhaços".

Galeristas atrás de uma mesa que custou mais do que 3 meses do meu trabalho, com uma malinha Louis Vuitton a dizer "não temos dinheiro", não me incomoda, enfurece-me. Ditos directores artísticos a pedirem um projecto ali para o Hotel da moda a quererem pagar com percentagem de vendas potenciais (quando / se venderem), também não me incomoda, só me leva a questionar se foi com 20% de vendas hipotéticas, numa data hipotética, que ele pagou o BMW, o iPad, o iPhone e a moradia. Dá-me também uma enorme vontade de perguntar se sabe que esse projecto não é um projecto curatorial mas de decoração, mas isso é outra conversa e poupo-me de ouvir um "não é a mesma coisa?". Directores de Faculdades a aprovarem compras de mais computadores topo de gama mas fugirem da contratação de professores para disciplinas que estão a ser leccionadas por quem jamais exerceu o que está a leccionar também não é nada incómodo, é inenarrável, estúpido e vai contra a missão de uma instituição de ensino.

É raro saber o que se quer fazer profissionalmente desde sempre. Sempre quis trabalhar com arte, mas questiono, agora, se o saldo é positivo. E não é do saldo bancário que se trata.

Monday, August 11, 2014

Na ausência de inspiração para concluir a metáfora em palavras, deixo as imagens.

Dicionário de sinónimos alternativo #qualquer coisa, perdi a conta.





Os nomes das bebés-meninas de hoje lembram-me todos nomes de avó. De Carlota a Maria do Carmo a Maria do Amparo só falta conhecer uma bebé Antonieta, nome da minha avó que sempre me deixou a pensar se a minha bisavó Mariana saberia da história da Maria Antonieta.

Friday, August 8, 2014






Tate St. Ives - Tate será sempre Tate (a programação, a colecção, as inúmeras actividades) mas Tate junto ao mar é o sonho. Infelizmente, na minha visita em 2000 e troca o passo esteve sempre cinzento e a chover, nada do que se vê aqui. Ainda assim, lindo.
(fotografias encontradas através do google images, não são minhas mas vou acreditar que sim, que a Cornualha tem dias destes)
A frase que mais recordo (e, talvez, a que mais falta me faz) dos domingos com o meu pai é "Tens que aprender a esperar, essa preocupação toda no próximo domingo já não existe e vais estar a contar-me que conseguiste e como afinal até foi fácil."

Para o meu pai, tudo o que estivesse relacionado com algum desejo meu, iria ser, inevitavelmente, concretizado. Quando não dependia dele (talvez quando os meus desejos passaram a ser mais exigentes que o panda de peluche da loja Trenó, que me acompanhou a infância), mas de outras pessoas mais do que do meu trabalho e esforço (ou dos pedidos ao meu pai, de menina mimada porque ser mimada não é, de todo, ter pais ricos), pedia-me paciência, o tal do saber esperar que não cheguei a aprender com o meu pai.

Sentada no café, com a cadeira da frente vazia, tento lembrar-me do sorriso, das palavras cheias de certeza e optimismo contagiante que caracterizavam o meu pai. O mesmo optimismo que caracteriza também a minha mãe. Provavelmente, quase todos os filhos dirão e sentirão o mesmo mas, ainda assim, escrevo, cheia de certeza: tive o melhor pai do mundo, tenho a melhor mãe do mundo.

Thursday, August 7, 2014

Olha a oportunidade fresquinha!

"Doclisboa'14 - Festival Internacional de Cinema
ABRE INSCRIÇÕES PARA VOLUNTÁRIOS
De 16 a 26 de Outubro o mundo inteiro cabe em Lisboa.
Os voluntários Doclisboa têm a enriquecedora experiência de fazer parte de um evento cultural de referência, contactando de perto com filmes e realizadores. Procuramos pessoas responsáveis e motivadas que nos possam apoiar nas diferentes áreas do Festival nos vários os espaços que acolhem a 12ª edição do Doclisboa: Cinema São Jorge, Culturgest, Cinema Ideal, Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, Cinema City Campo Pequeno, Museu da Electricidade, Biblioteca Municipal Palácio Galveias e Fórum Municipal Romeu Correia, em Almada.
Para iniciar a candidatura é apenas necessário preencher este formulário, que estará disponível até dia 5 de Setembro: bit.ly/V4v574
Lembramos que os voluntários que queiram colaborar deverão garantir a sua disponibilidade durante o período em que decorre o Festival.
Até breve!
A equipa Doclisboa"

Simpatizo muito com o Doclisboa. Gosto - regra geral - da programação; gosto da missão e do trabalho que desenvolvem na cidade; admiro a maneira como gerem um orçamento ridiculamente pequeno. Mas, por favor, não pintem de ouro o que não é mais do que um pedido de ajuda. Acho muito bem que hajam voluntários, cidadania e interesse por causas culturais mas chamar-lhe de experiência enriquecedora como se os voluntários estivessem perante uma oportunidade magnífica, é demais. Não há problema nem é vergonha nenhuma pedir ajuda no que quer que seja. Mas é uma vergonha passar a mensagem de que o ajudado é quem está a ajudar.

Tuesday, August 5, 2014

"Um sapinho por dia não sabe o bem que lhe fazia" é uma frase que fui interiorizando por feitio e circunstâncias, apesar de, grande parte das vezes, serem sapos estratégicos que isto dos sapos há de todos os tipos. Muitos sapinhos engolidos depois, que isto de não ser filha ou sobrinha de alguém com nome sonante é uma espécie de adubo para sapinhos, penso na possibilidade de overdose por sapinhos engolidos e se não seria melhor mandar todos passear.

Thursday, July 31, 2014

A rapariga mal disposta que serve o café manhã sim - manhã não, afinal, sabe sorrir. Afinal, só tem critérios específicos para quem sorrir. Ser loiro, homem, com mais de 1,70m, ter um ar muito arrogante naquele tom de "eu quero, eu posso, eu mando", e vestir fato. Como diria a minha avó, se não houvesse mau gosto ninguém gostava de amarelo. Mas que é divertido ver o poder dos senhores com ar muito arrogante, perante algumas senhoras jovens, é.

Wednesday, July 30, 2014

Estava aqui quase a tentar decidir a minha opinião sobre a praia urbana em Lisboa, a "praia do Torel", no Jardim do Torel. Já vi praias urbanas em cidades diferentes de alguns países que não têm praias naturais ou, tendo, são pouco acessíveis ou enfadonhas. Em Lisboa, as praias estão francamente perto da cidade e, na maioria, são muito boas, não percebo a ideia de uma praia urbana em Lisboa. A ideia de qualquer praia urbana parece-me sempre uma espécie de carnaval do Rio de Janeiro na Serra da Estrela. Ainda assim, quis tirar dúvidas, há sempre hipótese de surpresa pela positiva.

Lá fui ver as fotografias no Público e, pronto, lá se foram as dúvidas. Já sei que só indo pessoalmente é que posso ter uma opinião formada. Mas a ideia de ir ao Jardim do Torel enquanto estiver cheio de areia e logotipos, demove-me.



Ganhei outra dúvida. O Millenium agora patrocina tudo? Da última vez em Lisboa, vi um painel gigante no Largo do São Luiz que de tão magenta fiquei sem perceber o que anunciava, só percebi que era patrocinado pelo Millenium.

*fotografias daqui 

Tuesday, July 29, 2014

29.07.2014

Um dia, gostava de escrever, num caderno (não um livro, não sei escrever para publicar e já há lixo demais de pseudo-escritores nas prateleiras) as minhas observações de viagens pelos ditos não lugares, desde aeroportos, ao metro e autocarro de diferentes cidades, e aos cafés, esse enorme lugar onde impera a panóplia de conversas e acontecimentos estranhos.

À minha frente vejo uma senhora com uns 50 ou 60 anos, é difícil dizer quando uma pessoa é excessivamente magra (e garanto que não falo com dor de cotovelo, é francamente impressionante) com um café e um copo de vinho manhoso. Estamos em Bruxelas, são 11h da manhã e isto é um café tipo Starbuck's (desculpem queridos Belgas mas o dito fairtrade do Exki não me parece muito diferente), não preciso perceber de vinhos para não acreditar que aquele copo tenha algo de bom. Tira uma coisita qualquer da mala preta, tira os óculos e começa a sessão de maquilhagem. No café.

Momentos antes, vinha uma senhora nova também magra, deve ser pre-requisito cá do sítio, com um café numa mão meio a tremelicar, computador à tiracolo, carteira na outra mão. Quando finalmente chega à mesa, café pela mesa toda perante o olhar reprovador dos senhores importantes das gravatas que no outro dia alguém me explicou que não podem ser Armani, que isso seria uma falta de gosto e não é assim tão complicado ir às compras em Londres. A senhora nova lá chamou um dos meninos com as fardas do café, que era uma grande maçada mas que lhe tinha falhado a mão, muitas desculpas, uma coisa muita portuguesa isto do pedir desculpas cabisbaixo como se em vez de um café, tivesse rebentado com a sala toda. Lá voltou ao balcão com o seu ar algo frágil, meio tonto com o computador na malita e os ténis, parece que não sabe onde está, em Schuman não se calçam ténis a menos que se esteja a fazer jogging e seja Domingo, parece uma estudante credo. Lá explicou o infortúnio do café e o senhor do balcão lá lhe deu outro com cara de poucos amigos. Chegada a outra mesa, deixa cair - mas desta vez só uma parte do café, está a melhorar os reflexos - para cima do computador. Aparentemente, nada de grave, o computador está a funcionar até esta palavra. Não havendo posts nos próximos dias, foi o computador que morreu de overdose de cafeína.

Monday, July 28, 2014

As pessoas, regra geral, surpreendem-me. Em apenas uma semana de reuniões, ouvi histórias e mais histórias que não me dizem respeito sobre a vida privada de pessoas com quem trabalho ou trabalhei. Outras histórias que não são sobre a vida privada, são profissionais mas, não tendo provas e não ouvindo as duas versões, não tenho opinião formada. Na verdade, tenho mais do que fazer do que pensar em opinar e falar mal de quem quer que seja. Em apenas uma semana de reuniões faladas em Português, idioma que tantas saudades tenho, fiquei com uma azia que quase me fez esquecer as saudades, uma azia talvez por osmose.

Hoje, de volta a esta terra cinzenta por mais uns tempos, leio uma série de blogs e vejo uma réplica, via posts e comentários do que vivi na semana passada. A diferença é que nisto dos blogs - nos que estive a ler - ninguém faz disto trabalho. Qual é a ameaça? No trabalho, que se sintam ameaçados e reajam a atacar é irracional, maldoso e francamente uma má estratégia mas nos blogs não será mera perda de tempo? Já para não falar na azia.

Tuesday, July 15, 2014


Quando se é estudante, querem trabalhadores. Quando se é trabalhador, querem estudantes. E não são estudantes quaisquer, é só Srs. futuros engenheiros, s.f.f. Portugal, terra de engenheiros e doutores. Um país tão bonito, com pessoas tão interessantes mas com tanto non-sense. Não há perfeição.

Monday, June 30, 2014

ELMGREEN & DRAGSET "This Space Can't Be Yours" 2006
Thomas Hirschhorn with his work "ABSCHLAG," 2014. Installation view, MANIFESTA 10, General Staff Building, State Hermitage Museum, 2014.*

THOMAS HIRSCHHORN AT THE MUSEUM DHONDT-DHAENENS
(daqui)

Thursday, June 26, 2014

"JV, 24/3

Por que razão a arte contemporânea incomoda aqueles de quem não se esperaria tal incómodo? Por ser arte? por ser contemporânea? Por ser obra de uma mulher artista?
E se víssemos o barco e a obra de outra maneira: como um genial exercício artístico de crítica institucional: a ideia de representação nacional que é essencial à Bienal de Veneza (e a todos os certames do tipo, incluindo a Documenta), e tb "sobre" a eterna falta de um pavilhão português nos Giardini (e este ano a falta total de pavilhão), "sobre" o que se entende por "arte portuguesa", arte nacional,, "sobre" a arte em geral e a cultura como representação de um país, "sobre" o trânsito entre "arte elevada" e artesanato, lavores, tradição nacional, a marca nacional, o comércio e o turismo (está-se sempre a defender o impacto da cultura na economia...), "sobre o turismo cultural com as passeatas do cacilheiro pelos canais, "sobre" o trânsito distintivo entre obra e produto (ambos comerciais, mas ah! "La Distinction", - e em geral sobre a circulação entre níveis hight & low que estão obviamente associados mas que alguns inesperados puristas vêm defender por aristocráticas ou modernistas razões ("the great divide").

Quando é a doer (quando é para habitar, circular e viver - e não para observar à distância com facies cultural), os voyeurs púdicos reagem! Sempre sempre contra a arte de massas (Noel Carroll)! Têm-se incomodado com as medíocres representações anteriores que asseguravam o poder do "milieu", do "meio da arte"? (E tem graça, a Joana já tinha sido afastada uma vez por este secretário de Estado, era ele director geral das artes, que então cedeu às pressões - mas saiu-lhe o tiro pela culatra!!)
Quanto a custos, sabem que a retrospectiva do Sarmento em Serralves custou mais de 200 mil € (previstos à partida c. 125 mil !!), ultrapassando a verba da SEC para Veneza? E para quê? Para ampliar aquela enorme chatice, que o Público e a LSO reverencialmente puseram no 1º lugar do top do ano?
Sim Vera, o rabelo de Paris, mas essa, mal ou bem, tem sido o curso da arte desde a pub do Wahrol ou a bd do Liechtenstein, desde o ready-made, que aliás já não era à data uma invenção (mas apenas uma constatação e um enunciado crítico). O rabelo não era arte, o cacicheiro agora é.
Se a capacidade de perturbar é uma medida de avaliação, a Joana é a maior! Não tinha ideia de dizer nada (os tiques eruditos têm um largo consenso), mas o discurso do Ressabiator e a partilha do Zé Neves e amigos eram um saudável desafio."

Alexandre Pomar aqui: http://alexandrepomar.typepad.com/alexandre_pomar/joana_vasconcelos/
"Não queria destacar nomes, até porque tenho visto demasiados percursos que não se consolidam depois das promessas de partida. O meio é muito adverso, o país é pequeno e não há museus. Há um circuito contemporâneo mas muito pouca história e poucos modernos para ver. Não é por acaso que o Pompidou não se separa em duas instituições, com uma parte moderna e outra contemporânea. Não é por acaso que a Tate Modern não afastou o moderno do contemporâneo, optando pela existência de duas instituições paralelas. Só o confronto permanente com o museu, com o Manet, o Bonnard, o Picasso, e não apenas fotografias e fotocópias de capítulos, consolida uma aprendizagem e uma vitalidade que aqui não podemos ter. Acho que é muito difícil sobreviver como artista interessante em Portugal, e mais ainda porque há certas facilidades que dificultam a solidez do trabalho. A entrada maciça de artistas no ensino universitário é uma coisa que não consagra mas destrói carreiras, tal como a administração do presente pelos museus que existem, e também a dinâmica coleccionista que aposta em especial em jovens artistas, nas emergências a baixo preço, e que não favorece ou acompanha as maturidades, se a elas se pode chegar aqui. As características actuais do mercado de arte são muito gravosas para a consolidação das carreiras."

- Alexandre Pomar em entrevista a Sandra Vieira Jurgens para ArteCapital, 2008 

Friday, June 13, 2014

Alguém me dizia que "nos afectos, as pessoas deixam de ter uma idade associada". Fiquei a pensar nisto, se realmente associo ou não uma idade às pessoas que me são mais próximas.

A minha irmã fez ontem 40 anos. Escrevi, li, reli e continuo a não associar 40 anos à minha irmã. A minha irmã é a menina maior que eu, que corre muito e gosta mais de azul do que de amarelo. A minha irmã é a menina de sorriso rasgado e gargalhada fácil. A minha irmã enche a parede de posters de rapazes que me parecem velhos que aparecem nos filmes e não sei os nomes. A minha irmã é a menina maior que eu que me dá a mão antes de atravessar. E depois de atravessar também. E a subir as escadas, para eu não tropeçar. A minha irmã pediu muito uma mana e eu vim, passados alguns anos, numa chegada triunfal quando a minha mãe já estava prestes a desistir, então com 41 anos. Parece que sempre fui do contra.

Há uns dias, em casa da minha mãe, folheava as fotografias que eu e a minha irmã decidimos retirar dos albuns num dia de aborrecimento. Não me lembro ao certo do que nos passou pela cabeça, talvez fosse um dia em que não tínhamos nada que fazer e resolvemos organizar as fotografias. A obra ficou a meio, assim numa espécie de lugar temporário que já ali está há uns 20 anos. Nas fotografias mais antigas em que aparecemos as duas lado a lado, há uma constante: o meu olhar de admiração para a minha irmã, a menina grande, de passo certo e decidido. Se associasse uma idade à minha irmã, seriam os 12 anos. Parecia-me tão grande, tão alta, tão conhecedora de tudo. Sabia que ela me protegeria de tudo e de todos. Hoje, temos a mesma altura mas a minha irmã será sempre a menina grande, de sorriso rasgado e gargalhada fácil a quem não consigo associar muito mais do que aqueles 12 anos.

Tuesday, June 10, 2014

Jeppe Hein
Cage and Mirror
no CAM - Gulbenkian até 21.09.2014
Fotografia de Paulo Costa


Katharina Lackner
Slide
no CAM - Gulbenkian até 21.09.2014
Fotografia de Paulo Costa

"I am deceived by the past, tormented by the present, scared by the future." 
- não sei de quem é a frase, roubei-a de uma newsletter que roubou a citação de alguém. ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão, dizem.

Saturday, May 24, 2014


"2014 Football World Cup in Brazil:
Something to think about..."
(encontrei na internet mas sem créditos, não sei a autoria)

Wednesday, May 21, 2014

Dicionário de sinónimos alternativo #(perdi-me na contagem)



Sou completamente analfabeta nas lides dos blogs. Escrevo aqui como escrevo no bloco que tiver à mão. Mas, de vez em quando, em paragens mais longas do que deveria fazer, leio blogs a falar mal de outros, blogs a elogiar outros, blogs com posições muito irónicas e outras muito ofendidas com outros, em comentários acesos e posts que só percebo depois de ler os comentários e seguir os links (eu disse que são paragens mais longas do que deveria fazer, não é para isto que me pagam). E, depois, lembro-me da ideia de "aldeia global". E das telenovelas. E penso que isto é material para uma tese, tivesse eu a insanidade de escrever mais uma que ninguém vai ler.
Théodore Géricault: Study of a Model
Séc. XIX

(últimos dias da exposição de Théodore Géricault no Museu Nacional de Belas-Artes de Ghent)

Monday, May 19, 2014

Não há nada que possa escrever que explique a dor da perda. Parece-me que ainda há muitas pessoas que não dão valor aos animais, que não os sentem como companheiros, como família. Acredito na evolução da sociedade e acredito que um dia seja impensável abandonar ou mal-tratar um animal. Como deveria ser impensável mal-tratar pessoas e sabemos que não é. Acredito que um dia, quando eu explicar a minha dor de perder os meus amigos animais, ninguém me responda com um tom condescendente, com um "compra outro" ou com um olhar de "coitada, é doida".

Thursday, May 15, 2014

"Falar é ter demasiada consideração pelos outros."
- Bernardo Soares
"Fase confessional", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol II. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.

Tuesday, May 13, 2014

É difícil falar de animais de estimação sem correr o risco de soar lamechas ou até algo idiota. Afinal - pensará a maioria das pessoas - como é que um ser humano pode pensar que um animal tem o mesmo valor que outro ser humano?

Talvez não interesse a ninguém para além de mim própria e de quem seguiu a história, sendo que 2 das 5 pessoas que a seguiram já cá não estão para contá-la. Mesmo assim, vou contar a história da Yellow, nem que seja para não me esquecer.

A Yellow, há 14 anos, estava num caixote de cartão com os irmãos. Era uma manhã de Domingo, lembro-me do dia da semana porque era o dia em que estava sempre com o meu pai. Naquela altura, a minha avó juntava-se a nós no pequeno-almoço. O meu avô tinha morrido há cerca de 1 mês e eu não falava muito e comia menos do que falava. Quando saímos da Lido, vi o caixote cheio de cachorrinhos e sorri.

A minha avó, que nunca foi muito dada a fazer-me vontades, olhou para mim e perguntou-me se eu queria um dos cachorros. Encolhi os ombros, talvez por não acreditar que ao fim de quase 18 anos (toda a minha vida tinha pedido um cão), ela teria cedido. Ou talvez porque não havia nada, naquela altura, que me fizesse sorrir. Mas a Yellow fez. E voltei a sorrir ao mesmo tempo que encolhi os ombros. A minha avó apressou-se a dizer ao meu pai "Fernando, pegue num cachorro e pague à senhora, por favor." A minha avó tinha aquele ar muito seguro de si, muito forte e altiva, com os olhos muito azuis, a pele muito branca e o cabelo de um dourado acinzentado sem cabelos brancos, uma cor que nunca mais voltei a ver em ninguém. Mas mesmo com aquele ar tão seguro, não foi capaz de escolher um dos cachorros em detrimento dos outros e deu ao meu pai essa tarefa. O meu pai, baixo, magro, com um ar algo frágil mas muito, imensamente, mais forte do que aparentava, nos seus olhos profundamente castanhos, virou-se de costas para o caixote, lançou o braço e tirou de lá a que seria baptizada de Yellow.

Nunca me irei esquecer da cara da minha mãe a abanar a cabeça. A minha mãe é a pessoa mais forte e mais doce que conheço, a par com outra pessoa também única. Com uns olhos muito azuis mas muito diferentes dos da minha avó, baixinha como o meu pai, foi a única que desaprovou a ideia de ter um cão, fosse qual fosse a motivação da minha avó para ceder a um pedido que já tinha desistido de fazer.

A Yellow, de pelo amarelo e encaracolado, com olhos doces, cabia na palma da minha mão, uma mão magra e não muito grande. Levei a Yellow para casa da minha mãe e da minha avó, telefonei à minha irmã, já casada, a dizer da vitória que era das duas, afinal o pedido também tinha sido dela durante anos a fio. Durante semanas, tive medo de pisar a Yellow pelos corredores daquela casa enorme, muito maior sem o meu avô e sem a minha irmã que tinha casado e saído de lá. O meu pai já tinha saído há muitos anos, estava habituada aos nossos Domingos felizes e sabia-o presente.

A Yellow acompanhou-me os anos da Faculdade, em que ficava a fazer os projectos no chão da sala de estudo e ela ficava ao meu lado. Recebia-me sempre com uma corrida apressada, muitos latidos e lambidelas, numa alegria contagiante. Ficou ao meu lado sempre que me viu triste, sem latidos, só com companhia, com a cabeça no meu colo mas quem se sentia ao colo era eu. Presenciou os meus primeiros passos a trabalhar e viu-me partir, pouco depois da minha avó. Viu também a Farrusca partir. A minha avó e a Farrusca partiram para sempre. Eu, voltei muitas vezes, de visita. E a Yellow continuou a receber-me sempre com o mesmo entusiasmo e alegria de cada reencontro. Com aquela casa enorme de tal modo vazia, a minha mãe e a Yellow, companheiras improváveis, foram para uma casa pequena. A Yellow acompanhou a minha mãe num mês em que ela teve que ficar em casa, com um pé partido numa fractura exposta. Nunca saiu do lado da minha mãe, com uma dedicação e doçura que não vejo em todos os animais, a Yellow, nem que seja aos meus olhos, é única. Desde então que não sai do lado dela, adoptou-a como seu membro favorito da família. E a minha mãe adoptou-a no seu coração. Há quase um ano, a Yellow viu mais um membro da família partir, o meu pai. E, mais uma vez, ficou ao lado da minha mãe na minha ausência intermitente e em mais uma ausência permanente.

Há uns meses, a Yellow começou a ficar doente. Foi operada, resistiu. É uma resistente bondosa que sabe que precisamos dela. Mas agora começa a dar sinais que quer ir fazer companhia aos membros da família que a foram deixando, que já está demasiado cansada, por mais que tente ficar ao lado da minha mãe de quem tanto gosta. E lá fico eu a ver mais um membro da família partir. E, desta vez, a minha mãe fica sozinha a ver mais um membro da família partir. Um membro da família que não adoptou ao inicio mas que agora é absolutamente essencial na sua vida.

Contei uma parte da história da Yellow, nem que seja para não me esquecer. Para mim, a Yellow é um membro da família. Não quero esquecer-me das histórias da minha família que insiste em partir. Podemos não ser eternos mas as histórias ficam. A Yellow fez e faz parte da minha história. Tal como o meu avô, nos seus cabelos imaculadamente brancos, mãos pesadas e olhar profundo. A minha avó, na sua elegância que a uns parecia doce mas a mim parecia-me simplesmente forte. A Farrusca, preta e branca, que era uma gata que ria. E o meu pai, que não preciso fechar os olhos para conseguir descrever.

Wednesday, April 30, 2014

se desse títulos aos posts, chamava este de alguém se passou ou as redes sociais tomaram conta de alguns cérebros. a prudência diz-me que não devo escrever isto mas agora já está.


dicionário alternativo de sinónimos.



Tuesday, April 29, 2014

Graça Pereira Coutinho
Box Specialized in escapes, 2009 
Black Box + vídeo, Lab 4 Way Out, Pav. 28, Lisbon, 2009.
© Graça Pereira Coutinho

Wednesday, April 16, 2014

© Ola-Dele Kuku

"The installation (shown above) consists of open books, in different languages, nailed to a wall. For the architect-artist Ola-Dele Kuku, the words displayed are a reminder that gaps and contradictions in our knowledge as designers can lead not just to imperfect work — they can make things worse.

Ola-Dele Kuku’s piece features in a design triennial in Belgium on the theme of Conflict and Design. The event is a powerful reminder about the limits to understanding that necessarily inform any proposed intervention in someone else’s culture. However much one ‘reads up’ on a situation, one’s understanding will unavoidably be partial.

Humanitarian crises caused by resource grabs, or natural disasters, often trigger a wave of support from the public – and a determination, among designers, to do something practical. But, as Teju Cole has so trenchantly reminded us: “If we are going to interfere in the lives of others, a little due diligence is a minimum requirement.”

Any of us wishing to do good, Cole continued, must ”think constellationally, connect the dots, and see the patterns of power behind isolated disasters”.

The most encouraging feature of Conflict and Design is that it does not connect up dots on our behalf; the show contains far more questions than answers, and few of its impressive range of projects offer pat, pre-packaged solutions. In that sense, it passes a key test for the sensitivity of a proposed design intervention."

- John Tackara 

(daqui)
Marcus Kleinfeld
International Models (série, 2009)
Imagem e © Marcus Kleinfeld e Schmidt & Handrup Gallery

Peter Buggenhout
Imagem e © BAM e Peter Buggenhout



Valérie Sonnier
Under the snow (série, 2006 - 2007)
Imagens e © Valérie Sonnier

Tuesday, April 15, 2014



Carlos Amorales
Black Cloud, 2007 - 2009


Imagens daqui. (This is colossal - por )
Bansky
Mobile Lovers, 2014
© Bansky

É isto que é apaixonante na arte: a possibilidade de ver, como num espelho, quem somos, o que fazemos.

Monday, April 14, 2014

Há muito para dizer sobre as palavras da ministra das finanças (sim, com minúsculas) mas vou fazer uso das palavras da minha avó: "burro velho não aprende línguas".

"Ministra das Finanças diz que emigração pode trazer benefícios ao país.


A ministra das Finanças considera que a emigração pode trazer benefícios ao país tais como o regresso de profissionais mais experientes. Numa entrevista ao Financial Times, Maria Luís Albuquerque admitiu ainda desconhecer se os eleitores preferem uma saída prudente ou ousada do resgate."


- SIC Notícias

Friday, April 11, 2014

"My critical analysis is aimed at the lack of common infrastructure and points at a classical dichotomy of identity in the art scene, that is unfortunately also a specific characteristic of the one in Stockholm, where the commercial parties strive at and feed from the exclusiveness, VIP-lists, VIP-this, VIP-that, enclosed structures with few public concerns, and where the non-commercial parties strive at and feed from structural, critical investigations, formalized activism and archive building while trying to neglect the need of a broad public to realize the social ends of their artistic strategies. This dichotomy is of course a caricature, but with a certain truth to it. It is exclusive either way, and by not recognizing the common goods of a common ground, Stockholm ended up lacking an actual identity. And for what purpose? None, I would argue."

Matthias Hvass Borello in Metropolis

Thursday, April 10, 2014

Ginástica, em ginásio ou espaço exterior, tanto me faz, nunca gostei e continuo a não gostar. Nem os ténis coloridos de todas as formas e feitios que se apresentam como o último grito da moda (lembro-me de ter uns New Balance há 10 anos e a minha irmã dizer que aquilo estava demodé mas vamos fazer de conta que é novidade, de qualquer modo não percebo nada de moda) me fazem ter vontade de correr ou seja lá o que for.

Lembro-me de, na escola, perguntar a uma professora de educação física para onde é que era suposto correr, para onde íamos. Se a pergunta tivesse sido feito na aula de filosofia, talvez tivesse ganho pontos, mas ali as perguntas sem sentido não eram muito apreciadas. A professora lá repetia "oh Luísa, é para dar 10 voltas ao campo." Mas para quê correr às voltas? Devia saber que aquela aula não era para perguntas mas enquanto perguntava, não corria.

Hoje, que ninguém me obriga a correr, não consigo mesmo correr, falta-me o ar, dói-me o peito. Não estou a arranjar desculpas, é verdade. Não gosto de correr mas gosto ainda menos de não poder escolher. Esta pseudo conclusão é tão a despropósito como as perguntas de empate que fazia à professora de educação física mas é o que consigo dizer disto das corridas.

Wednesday, April 9, 2014

"Portanto, para que surja um mundo diferente do actual, basta que eu mude, que me insira naquele momento em que o alguma coisa se recolhe ao nada, o que só pode ser preparado e propiciado por um comportamento dentro do mundo que existe, mas o mais diferente possível dos comportamentos normais (...)"
Agostinho da Silva, in "Textos e Ensaios Filosóficos II"

Tuesday, April 1, 2014

Sempre gostei de ser uma miúda. Lembro-me de ter uns 10 anos e pensar "nunca quero ser uma daquelas pessoas adultas, chatas que não se lembram o que é ser criança. Quem me dera não envelhecer para lá dos 16 anos". Lembro-me de associar adulto a chato, aborrecido, sério e não querer ser um "deles". Inevitavelmente, cresci e sou adulta sempre com um gosto especial quando me dizem que pareço uma miúda. Contudo, há uma excepção: quando, em ambiente de trabalho me dizem que pareço uma miúda pela maneira como me visto e pelo "ar jovial" (a sério?...) ou pelo cabelo demasiado comprido ou pelo tom idealista que, aparentemente, me caracteriza. Mas, se é esse o preço a pagar por gostar de ser uma miúda com esperança, mesmo que idealista e irrealista, pago. O problema é a inevitabilidade de nem sempre conseguir ter a esperança de uma miúda.

Thursday, March 27, 2014


"This skateboarding ramp floating over the clear waters of Lake Tahoe was put together in just four days by design-and-build team Jerry Blohm and Jeff King for Californian skater Bob Burnquist."
(imagem e texto da Dezeen)

Wednesday, March 26, 2014

Olho pela janela e vejo que as árvores que há uns dias estavam despidas, estão agora cheias de folhas novas, muito verdes, de vários verdes e, algumas, até têm flores, num começo feliz. E assim esqueci a minha manhã. E assim me lembrei dos muitos sorrisos que me trouxeram aqui. E assim me lembrei da frase "nem tudo é tão mau nem tão bom como parece" e, sincera e genuinamente, concordei sem hesitar, com um sorriso grato.
Dia perturbador, a definição:

Sair de casa, tentar fazer o caminho de sempre e demorar o triplo do tempo porque o Obama está cá. Tentar voltar para casa e ter que ficar num café à espera que a confusão passe e deixem as pessoas andar em uma das ruas que possibilitam o regresso a casa. O café - o único em que posso ficar à espera - estar repleto de portugueses que parecem saídos de um catálogo da Sacoor. Acho que chega por hoje mas ainda é só uma da tarde.
Yes you can.
You can wait in a cafe.
You can walk in circles.
You can curse.
But you can't go home or work or wherever.

Yes you can your royal ass.
Querido Obama,

Antes de escrever, fiz o exercício de contar até dez, respirar fundo e tentar ver o lado positivo.

Obrigada por teres vindo aqui à terra. Um caminho que demoro dez minutos a fazer, demorou hoje mais de trinta minutos o que me possibilitou descobrir um restaurante italiano nos confins de um beco, um café que é também mercearia numa rua que não conhecia e ainda passar pelo parque cá do bairro com o arco que hoje me pareceu a Brandenburger tor. Falei ainda com dois polícias muito amáveis que me indicaram os caminhos de curvas e contra-curvas, sempre com um sorriso de quem não tem que fazer os percursos indicados.

Não te apoquentes que não foi maçada nenhuma, afinal só paguei 2,50 euros por um café que costuma custar 1,00 euro mas tive direito a um bolinho que me caiu para o chão, certamente pelo entusiasmo de te saber cá na terra.

Também não foi nada chato percorrer a mesma rua de trás para a frente até uma alma caridosa explicar-me que não, que não é mesmo possível ir para a praça onde vivo e que temos que esperar ali até à uma da tarde, eventualmente até às três, ninguém sabe ao certo, e que não vale a pena eu dar mais voltas, mais vale esperar no único café em que se pode entrar e esperar. Sentada.

A culpa não é tua meu querido ilustre, nem de todos os outros ilustres que têm reuniões muito importantes nos edificios de vidro. A culpa é dos idiotas cá da terra (desta e de todas as outras, não é exclusivo) que teimam em fazer um circo à vossa volta e fazem todos acreditar que estamos perante deuses. Certamente haverão explicações inteligentes e inteligiveis, eu é que sou uma provinciana que não é desta terra.

Pronto, já contei até dez, já respirei fundo e não resultou.