collectors of dreams - etsy shop

Tuesday, December 31, 2013

A minha avó costumava afirmar mais do que perguntar, a propósito da minha preferência desmedida pelo amarelo, "o que seria do mau gosto se não houvesse amarelo?". Estava aqui a tentar lembrar-me quando é que o amarelo se tornou a minha cor preferida. Não me lembro de ter outra cor preferida, na verdade. Cheguei então a uma das minhas memórias mais antigas.

Um dia de manhã, teria eu uns 4 anos, acordei com um barulho estranho que vinha da sala de jantar. Levantei-me e encontrei o meu pai a correr pela sala. Duas coisas estranhas: o meu pai, àquela hora, em casa; o meu pai a correr e gesticular freneticamente. O meu pai sempre foi uma pessoa muito calma, não me lembro de ouvi-lo gritar, falar alto, correr então nem pensar. À excepção desta vez. O meu pai corria e gesticulava para apanhar um canário amarelo que entretanto estava no topo de uns cortinados horríveis, com muitas rendas, que tapavam a vista para a varanda que eu tanto gostava. Tinha-o encontrado na nossa rua, junto a um carro. Ou foi essa a história que ele contou e talvez o canário tenha vindo da loja de animais mais próxima, haviam duas ali perto mas o meu pai era um excelente contador de histórias.

O canário amarelo, aquele bicho tão pequeno, acompanhou, paciente e alegre, a minha infância com cantorias e pedidos de maçã que só comia da minha mão. Lembro-me tão bem do dia em que me deixou como do dia em que me chegou a casa. Teria uns 12 anos, era um Domingo. Sei que era Domingo porque era dia de missa que a minha mãe insistia em levar-me mesmo ela sendo proibida pela igreja de comungar. A minha mãe tem uma capacidade de perdão e compreensão que eu, provavelmente, jamais terei. O canário amarelo estará agora com o meu pai que o resgatou da rua ou da loja, é um segredo deles. Mas é às características alegres, esvoaçantes e de companheirismo que associo o amarelo.
Piotr Pietrus
Various I
© Piotr Pietrus
O Marylin Manson disse, numa entrevista, qualquer coisa como "não sei se quero salvar o mundo porque não sei se o mundo merece ser salvo". O mundo, para mim, merecerá sempre ser salvo. A natureza, os animais, o mundo em si, não fizeram mal nenhum. Os seus habitantes humanos, esses, tal como o Marylin Manson, não sei se merecem ser salvos. Mas acredito que merecem a oportunidade de mudar. Resta saber como fazer o ser humano, esse ser tão evoluído, perceber que precisa mudar.

Monday, December 30, 2013

As tardes de chuva passadas atrás de uma janela com vista para um jardim, cheiram-me sempre a torradas e doce de morango.

Até aos meus 5 anos, a minha avó torrava pão e barrava-o, generosamente, com doce de morango da Casa Mateus. Muitas vezes, queimava o pão em vez de torrá-lo. Não era uma avó dita tradicional, daquelas dos contos infantis, muito perfeitas, velhinhas e doces, que adoram cozinhar. A minha avó, alta, elegante, cheia de força e segurança, de olhos muito azuis e cabelo de uma cor que nunca consegui descrever mas nunca foi branco nem grisalho, não gostava de tachos e panelas. Mas fazia umas torradas, que mesmo queimadas, tinham um cheiro único. Era um cheiro de conforto, com a chuva lá fora e nós lá dentro, a ouvir a chuva a cair no telhado e a vê-la pelas janelas enormes que davam para as traseiras, onde havia uma espécie de jardim. As torradas anunciavam que seriam perto das 17h e que, dali a pouco, viria a minha mãe para irmos a um jardim. Se estivesse a chover, teria direito às galochas coloridas e a saltar nas poças sem repreensões.

As tardes de chuva passadas atrás de uma janela com vista para um jardim, cheiram-me sempre a torradas e doce de morango. E ao conforto do colo da minha avó e dos passeios com a minha mãe e irmã nas tardes de chuva calçadas de galochas coloridas.
Divertem-me as biografias escritas pelos próprios que, não sendo assumidamente auto-biografias, são redigidas, de fio a pavio, na terceira pessoa do singular. Lembram-me sempre a história que a minha mãe conta de um primo distante que, até aos 10 anos de idade, em vez de usar "eu" nas frases, preferia sempre "o Manel".
Listas e planos. Podia escrever uma lista do que fiz e deixei de fazer em 2013. Podia planear tudo o que quero ler, ver, visitar, fazer, em 2014. Mas, em 2013 aprendi que, por mais listas e planos que faça, há sempre tantas coisas inesperadas que, reflectir sobre um ano que passou e projectar um ano que vem, não influencia muito do que possa ou não acontecer, com todas as coisas boas e menos boas.

Sunday, December 29, 2013

Um fenómeno dos tempos ditos globais: juntar, na mesma frase, palavras em dois ou três idiomas.

Tuesday, December 17, 2013

Sempre gostei mais de comércio tradicional do que de centros comerciais. Sempre preferi comprar nas lojas em que posso falar com as pessoas do que comprar o que quer que seja atrás de um ecran. Sempre preferi falar com as pessoas até as pessoas se tornarem completas idiotas que se esquecem que, sendo ou não sendo proprietárias das lojas, dependem das vendas. Independentemente de dependerem ou não das vendas, se estão a trabalhar e passam ali os dias, talvez seja melhor estarem bem dispostas e não me parece que seja a chatear um cliente que se consiga boa disposição e vontade de ficar ali o dia todo. Sempre fui muito mais analógica do que digital mas faço cada vez mais compras online e a razão principal não é, certamente, não encontrar o que quero de outra maneira. As pessoas, que eram a razão que me levava a continuar a comprar em lojas físicas, são a mesma razão que me leva a começar a preferir fazer as compras atrás de um ecran sem ninguém a fazer perguntas estúpidas, a responder "não" antes de ouvir a pergunta até ao final e revirares de olhos. E não me orgulho nada de não encontrar uma solução melhor.
Há uns anos, tinha muito bom feitio. Até diziam, com aquele ar simpático, quase maternal, que eu era uma pessoa "fofinha, muito querida". Há muito tempo que os meus amigos e conhecidos não me dizem tal coisa. Lembro-me de uma professora de filosofia, talvez no 9º ano, dizer que não queria ser "boazinha" porque, para a maior parte das pessoas, ser boazinha era igual a ser parvo. Na altura, não percebi.

De há uns anos para cá, o meu bom feitio de outrora classificado por amigos e conhecidos de "fofice e queridice", transformou-se no que as mesmas pessoas e outras com quem fui cruzando caminhos, chamam agora de "grande acertividade e segurança". Parece-me que se a minha professora de filosofia pudesse dizer alguma coisa sobre o assunto, diria que essas características, para a maior parte das pessoas, são iguais a ser arrogante.

Hoje, a pedir um café em Francês, um idioma que domino quase tão bem como Mandarim ou Grego, fui alvo, mais uma vez, de revirar de olhos. Nos últimos anos, tenho constatado que o atendimento ao público deve ser algo de extremamente doloroso pelos esgares e falta de educação de que sou alvo fácil em culturas que não domino mas também em culturas que conheço bem. No último ano, já perdi a conta das vezes em que chamei um gerente, escrevi uma carta de reclamação ou respondi no mesmo tom (perdendo, claramente, a razão). Hoje, decidi tentar ter bom feitio e escolhi pensar que este rapaz de olhos incrivelmente redondos (ou ficaram demasiado redondos quando os revirou, não sei) pode ter muitos problemas e tem direito a um dia mau. Respondi-lhe com o meu melhor sorriso e um "Muito obrigada pelo café, está óptimo. Espero que tenha um bom dia." E não é que ele sorriu e os olhos ficaram fixos sem revirar e até pareceram fazer parte do sorriso? Talvez seja parva aos olhos de muitos, arrogante aos olhos de tantos outros mas, o que gostava mesmo, era de não precisar de ser nem uma nem outra. Mas, para isso, era preciso todos aprendermos o significado de respeito pelo próprio e pelo outro, sem artifícios e sem esforços, que é uma tarefa, aparentemente, muito complicada.

Wednesday, December 11, 2013

“Ideally, what should be said to every child, repeatedly, throughout his or her school life is something like this: 'You are in the process of being indoctrinated. We have not yet evolved a system of education that is not a system of indoctrination. We are sorry, but it is the best we can do. What you are being taught here is an amalgam of current prejudice and the choices of this particular culture. The slightest look at history will show how impermanent these must be. You are being taught by people who have been able to accommodate themselves to a regime of thought laid down by their predecessors. It is a self-perpetuating system. Those of you who are more robust and individual than others will be encouraged to leave and find ways of educating yourself — educating your own judgements. Those that stay must remember, always, and all the time, that they are being moulded and patterned to fit into the narrow and particular needs of this particular society.” 

― Doris LessingThe Golden Notebook

Monday, December 9, 2013

A minha árvore de Natal preferida é uma obra de arte. Assim ao género da Branca de Neve do César Monteiro. Ela está aqui só que ninguém a vê.
Nome xpto 01;
Licenciado em Física pela Universidade de Não Interessa, uma Cidade Qualquer Portuguesa;             
Doutor em Engenharia de Qualquer Coisa, é Engenharia não chateiem o Senhor, ser Engenheiro ou Doutor é suficiente, tanto faz o quê, pela Universidade de tanto faz mas fora de Portugal, de preferência no Reino Unido ou Estados Unidos, a beleza da União;
Doutor Honoris Causa pela Universidade de outro sitio qualquer, aqui já não interessa onde;
Investigador Coordenador no Instituto qualquer;
Agregado pelo Faculdade Pública qualquer Portuguesa que aqui faz sol todo o ano;
Membro da Academia tanto faz;
Professor Catedrático;
Professor Catedrático numa Faculdade qualquer, aqui já não interessa.
Supervisor da Tese.

Nome xpto 02;
Licenciada em Tanto Faz;
Mestre em Qualquer Coisa, até pode ser Teoria do Fósforo;
Doutora em Qualquer Coisa, pode ser Teoria de Acender o Fósforo Sem Partir o Fósforo;
Professora Auxiliar numa Universidade Qualquer do Estado;
Professora Auxiliar na Universidade (não sei o porquê da repetição).    

Nome xpto 03;
Licenciado em Tanto Faz;
Mestre em Tanto Faz 02;
Doutor em O Tratado do Tanto Faz;
Agregado pela Universidade Qualquer do Estado;
Professor Associado com Agregação Seja Lá o que isso quer dizer, estamos a falar para académicos não é suposto mais ninguém saber o que é se nós também não sabemos;
Professor Associado com Agregação no Instituto de Qualquer Coisa.
Presidente do Tanto Faz mas aqui convém que seja privado que também é preciso ganhar bem.

Tinha aqui mais 4 perfis mas dá para ter a ideia. Foi tudo adaptado de perfis reais muito académicos muito sérios. Deve dar uma trabalheira escrever estes perfis, ser estes perfis. Deve dar uma trabalheira ficar ofendido quando não se é reconhecido como Prof. Dr. Xpto e apenas Xpto, uma verdadeira trabalheira. Deve dar uma trabalheira aos senhores que fazem as inscrições nas lápides ter que escrever esta parafernália toda na pedra (o negócio da pedra está aqui a apresentar-se como uma oportunidade de negócio, atentem), porque morrer Doutor Honoris Causa é tão diferente de morrer com a 4ª classe. Deve dar uma imensa trabalheira tirar aquelas fotografias com a toga e o fato do miúdo do filme, o Potter. Deve dar uma imensa trabalheira manter a pose e tirar da cartola frases e palavras que ninguém percebe porque o conhecimento é para exibir, não para partilhar. Vida cansativa a vida do académico. Do académico pedante.

Wednesday, November 27, 2013

Ideia brilhante do dia:
fazer uma exposição sem trabalhos e chamar-lhe "Branca de neve". espera, já foi feito.

Monday, November 25, 2013


Dois raios de sol. Não vendo sol demasiados dias e semanas seguidos, é difícil não ficar obcecado com as previsões meteorológicas e evitar conversas sobre o tempo. Afinal, os nórdicos não são enfadonhos, eles devem ter mais qualquer coisa para falar do que as mudanças (ou não mudanças) de temperatura. Mas é difícil evitar este grande tema de conversa.

Thursday, November 21, 2013

Wednesday, November 20, 2013

Prenda de Natal 2013.

Querido Pai Natal,

O que eu gostava mesmo muito de receber este Natal, tu não me podes dar. Por isso, vou pedir uma coisa mais simples. Achas que podes, por favor, pedir aos senhores das lojas das quais fiz a estupidez de assinar a newsletter (e, já agora, de todas as outras que não assinei mas que chegaram ao meu contacto por outras marcas e lojas que partilham informações) para pararem de enviar e-mails com renas, azevinhos, dourados e encarnados com convites de sei lá que festas, descontos para um "stress free Christmas" e afins?

Não precisas trazer-me a prenda pela chaminé que não tenho nem trazer as renas, basta que bloqueies os e-mails promocionais. Nem te peço sol (e muito menos neve, obrigadinha mas não é preciso) nem aquelas bolachas da Dandoy, mais nada.

Muito obrigada.



Laura Lima, "O mágico nu (The Naked Magician),"
2008/10.
Exhibition view / Vista de instalação, Casa França Brasil.
Photo / Fotografia: Sérgio Araújo.
Courtesy of the artist / Cortesia da artista.

Tuesday, November 19, 2013


Era uma vez um pântano que vivia feliz na sua condição de pântano. Vieram umas pessoas cheias de ideias e boas intenções e construíram-lhe uma cidade em cima. O pântano não gostou da prenda e vem mostrar o seu desagrado sempre que pode.
“The problem with the world is that the intelligent people are full of doubts, while the stupid ones are full of confidence.” 
― Charles Bukowski
Palle Nielsen The Model – A Model for a Qualitative Society 1968
© DACS 2013

"Palle Nielsen: The Model is the most comprehensive display of archival material from Danish artist Palle Nielsen’s (born 1942) groundbreaking social experiment The Model – A Model for a Qualitative Society 1968. The display includes sound recordings, documents and photographs from the original project.

The Model – A Model for a Qualitative Society transformed the Moderna Museet, Stockholm, into an adventure playground. Over the course of three weeks in October 1968 The Model saw more than 20,000 children make use of the jungle gyms, climbing ropes, water chute, foam rubber ‘diving pool’, theatrical costumes, carnival masks, LPs and turntables, swings, and many other elements that comprised the playscape. The project remains one of the most ambitious museum interventions to date, yet is still a relatively unknown episode in art history."

Na Tate Liverpool, parte da exposição "Art Turning Left: How Values Changed Making 1789–2013" (curadoria Francesco Manacorda) de 08.11.2013 a 02.02.2014



“Debajo del último estrato” , María García-Ibáñez
© María García-Ibáñez

Monday, November 18, 2013

“If you're losing your soul and you know it, then you've still got a soul left to lose” 
― Charles Bukowski
As temperaturas da Biblioteca Nacional cá do sitio e as temperaturas das reservas dos Museus têm um ponto em comum: são muito agradáveis.

(The Shinning, 1980)

Friday, November 15, 2013


The Lighthouse, Po Chou Chi

“We're all going to die, all of us, what a circus! That alone should make us love each other but it doesn't. We are terrorized and flattened by trivialities, we are eaten up by nothing.” 
― Charles Bukowski

Thursday, November 14, 2013

Wednesday, November 13, 2013

Vamos lá ver se isto é tão bom como prometido.

"O silêncio mata" diz o Petrit Halilaj a propósito do que viveu no Kosovo. O silêncio e a indiferença matam e não é só em países em guerra e pós-guerra. Habituamo-nos, desde pequenos, a imagens de guerra na televisão, imagens bem reais mas que estão tão distantes, separadas de nós pelo vidro do ecran, numa realidade que nos ultrapassa. Passamos pelas pessoas, bem reais, tão perto de nós, e, às vezes, parecem-nos tão distantes das nossas (ou das minhas) realidades encapsuladas, protegidas de tudo e de nada. Diziam-me que estamos cada vez mais indiferentes. E estamos. Mas depois vejo exemplos, mesmo ao meu lado e outros noutra realidade, separada por um ecran, de pessoas que se preocupam, todos os dias, por outras pessoas, sejam próximas ou distantes, amigas ou completas desconhecidas. E penso que há esperança para a evolução da humanidade.

Ideias para ajudar esta desconhecida para muitos, neta, amiga, filha para outros? - http://quadripolaridades2.blogspot.pt/2013/11/da-minha-pequenez.html

Tuesday, November 12, 2013

E quando o projecto acabar? Publicam-se uns textos bonitos, fazem-se umas exposições agradáveis e vão todos para casa onde a palavra "social" não vem colada à palavra "problema"? Gostava de olhar para estes ditos projectos e acreditar que mudam alguma coisa de um modo permanente mas só vejo uma mudança tão efectiva como aplicar base numa borbulha infectada.


"FLOATING PEERS 2013 is a project for community art practitioners organised jointly by Artists' Association MUU and the Porapara Space for Artists in Bangladesh. The project will involve 37 participating artists from Finland, Bangladesh, India, Japan, Nepal and South Korea. The participating Finnish artists are Kalle Hamm, Anna Knappe and Rita Leppiniemi. The Finnish project coordinator is artist JP Kaljonen.

Landless people who have fled from the countryside to the cities are a serious and rapidly growing social problem in Bangladesh. Many of them live on the fringes of society without permanent abode or basic necessities, earning their livelihood by collecting refuse, hawking or as rickshaw pullers. Social instability deprives children of school education and exposes young people in particular to all kinds of exploitation.

FLOATING PEERS 2013 project will consist of a series of workshops in which the participating artists develop and carry out community initiatives with street children and their families in the Porapara area. The goal of the project is to develop, in collaboration with local artists and experts, artistic means to involve and empower this segment of the population, to enhance their quality of life and give public exposure to the issue."



- Louise Bourgeois (1911, Paris - 2010, NY)

Thursday, November 7, 2013

"Knowing capitalism by nature, the system is all about profit making, so in general there are no ethics involved when you deal with capital and market economy – and especially vis-à-vis exploiting resources from Third World countries."

Salah M. Hassan em entrevista a Jesper Alvær para o Kunstkritikk.

Max Richter
On the nature of daylight

Tuesday, November 5, 2013

"lessons learned"

Tal como uma dieta não tem um bom dia para começar (há algum dia bom para começar uma dieta?), mais um capítulo também não tem um bom dia para começar. E pronto, essa foi a lição que aprendi. Será que chega para capítulo?

Tuesday, October 29, 2013

Zhao Renhui 
Blind Long-tailed Owl, Desert Variant of Little Owl from the series, As Walked on Water, 2011
Installation of vinyl print, 280cm x 194cm


The Institute of Critical Zoologists
Friday 27 April — Sunday 17 June 2012
Chapter Arts Center
Cardiff, Wales, United Kingdom

"The Blind Long-tailed Owl (2011), ‘watches’ over us at both the beginning and end of the exhibition - This owl has evolved a sight-sheltering plumage to cope with the desert conditions it has been forced into, due to de-forestation. This bird becomes a totem; it’s visual impairment /adaptation alludes to the limitations of the human regard for animals and suggests a change of perspective and abandoning of our assumptions about reality." 

Copyright 2012, Institute of Critical Zoologists

Monday, October 28, 2013

Não vale dizer "diz 33" nem "é a idade de Cristo", sim? Caramba, já não chega uma pessoa ser obrigada a envelhecer sem querer envelhecer. Mas confesso que sou muito - mesmo muito - mais feliz com 33 do que fui com 13 ou 23. Sou uma trintona cheia de sorte na vida.

Friday, October 25, 2013

Pai,

Prometi (não a ti mas a mim) que não vou escrever coisas mórbidas. Acho que não irias gostar. Mas olha, acho que não consigo melhor que isto.

As pessoas, quase todas, dizem-me, repetidamente (e tu sabes, como poucos, o que detesto que me repitam a mesma coisa - tal como tu, só preciso que me digam uma vez) o quão forte eu sou. Sinto sempre que é um insulto a ti, que estão a dizer que não gosto de ti o suficiente e que não estou a sofrer. Fico sempre a pensar que estás a ouvi-los e ficas a questionar se eu estarei triste. Estou tão triste que não tenho palavras para descrever.

Já sei que não gostas de me ver triste mas, caramba, então podias ter acordado, não? Eu sei que não podias e que tentaste. Não estou chateada contigo. Mas estou muito chateada por não poder ir tomar o café contigo antes do Natal e dizer a falta - a enorme falta - de vontade que tenho em celebrar o Natal. Não é coisa que se diga, não fica bem, o Natal é da família e as filhoses tão boas, tão bonitas, tão loirinhas. Tu percebias o meu enfado em ter que embrulhar prendas e prendinhas para pessoas que mal conheço e ter que jantar bacalhau cozido que não gosto, muito menos se for obrigada. Tu percebias a espécie de urticária que me davam aquelas músicas de Natal nas lojas quando a mãe se lembra que falta mais não sei o quê para não sei quem. Tu percebias que eu adoro a mãe, a minha verdadeira melhor e incondicional amiga, mas que não lhe posso dizer que detesto o Natal como te digo a ti porque ela não percebe o meu enfado e enjoo perante a ideia da noite de Natal. Tu sabes do que falo e do que estou a censurar aqui.

Estou mesmo, mesmo muito, chateada por não poder tomar mais cafés contigo e retribuir o teu sorriso quando a mãe diz "a minha mala fica aqui". Estou muito chateada por não poder ir contigo ao Centro Comercial Alvalade (mas parece que não estamos a perder muito, pelo pouco que pude ver quando estive lá). Estou muito chateada por tudo o que não te disse, pela viagem a Berlim que não fizemos juntos. Estou muito chateada porque não te mostrei fotografias suficientes dos lugares que gostavas de ter visto. Estou muito chateada por nunca ter dado importância quando dizias "o coração do pai está muito fraquinho". Achei sempre que davas muita importância a dores de cabeça e constipações e que isso era igual.

Pai, não sei nada. Não tenho nenhuma religião, não sei bem no que acredito. Talvez por isso me seja mais difícil aceitar que te perdi, não sei se te volto a ver, não sei o que há e se há alguma coisa a seguir. Mas se houver e se de algum modo puderes saber quem és, quem foste e quem eu sou, eu estou triste e não estou a lidar bem com nada disto e não, não sou nada forte. E não quero ser. Estou cansada e cheia de medo, restam-me tão poucas pessoas e nunca será tempo suficiente.


Porque é que há tantos blogs com nomes que incluem a palavra pipoca, no singular, no plural, no feminino e no masculino? 
então foi por isto que hoje o meu percurso de 10 minutos se transformou em percurso de 30 minutos.

Link

Safety zone your - caríssima capital da Europa - royal ass.

Wednesday, October 23, 2013


Depois de uma hora, lembrei-me do nome das árvores que parecem a Olivia Palito: Ciprestes!
(imagem retirada daqui)

Monday, October 21, 2013

Pescadinha de rabo na boca.



Também se podia fazer um seminário "designing the design" ou "enginnering the engineer" ou "cooking the cook" (esta com a apresentação do filme Hannibal). 

Thursday, October 17, 2013

Informação do dia:

"O seu gelado de baunilha sabe, afinal, a rabo de castor?

O aroma a baunilha vem da baunilha, certo? Errado. A substância química que os castores usam para marcar território tem um aroma semelhante, que o leva a ser usado em perfumes e como aditivo alimentar. Agora, já sabe o que pode haver no seu gelado..."



Wednesday, October 16, 2013

Para não estar sempre a criticar, um projecto muito bom em Estocolmo que parece falar do mesmo do que o post abaixo mas actua para além da reflexão e está muito para lá dos -ismos:

Tensta Museum: Reports from new Sweden

26.10 2013-18.5 2014 Tensta Museum: Reports from New Sweden is about the history and memories of Tensta, both in relation to the place and to the people who live and work there. Some forty artists, architects, local associations, performers, sociologists, cultural geographers, philosophers, and others address the past in, for example, art works, research projects, seminars, and guided walks. At the same time they will be reporting on the condition of things in Tensta today, on what can be described as the “new Sweden.” This is a Sweden containing people of widely different backgrounds, where economic and social differences are palpably intensifying: according to a new OECD report, income gaps in Sweden are increasing the most rapidly of any of the 34 member states. In their contributions to Tensta Museum, some of the invited participants will also be looking forward and proposing future scenarios.

- Tensta Konsthall, dirigido por Maria Lind (aqui)

Friday, April 18, 6:30pmJens Hoffmann: Curatorial Déjà vu

In his lecture, Jens Hoffmann will explore the recent trend in exhibition-making to revisit, recurate or otherwise reanimate historically important exhibitions. Hoffmann will discuss the thoughts and ideas that culminated in his recent revival of two legendary shows from the 1960s: Primary Structures (The Jewish Museum, New York, 1966) and Live in your Head: When Attitudes Become Form (Kunsthalle Bern,1969), resulting in Other Primary Structures (The Jewish Museum, New York, 2014) and When Attitudes Became Form Become Attitudes (CCA Wattis Institute for Contemporary Art, San Francisco, 2012).



Esta mania de recriar exposições, de recriar modernismo e todos os -ismos e chamar-lhe pós-qualquer coisismo não será porque ainda ninguém conseguiu pensar em falar de alguma coisa mais interessante aqui e agora? Teorismos. Snobismo Déjà vu. Como é que ninguém se lembra de fazer um simpósio sobre teorismos e snobismos? E de cenismos*?

*da expressão "da cena". 
Há uns anos, alguém dizia qualquer coisa como "vês as cores das árvores, ligas a esses detalhes da natureza e essas coisas para não veres o que te rodeia, és demasiado sensível". Na altura, não soube responder. Durante muito tempo, pensei que aquele senhor tão mais velho do que eu, com tanto mais conhecimento do que eu, estivesse certo.

Hoje, entrei num café e vi três vasos com orquídeas que, coitadas, agora parecem ser a flor / planta da cena e são obrigadas a estar em todos os cafés da cena, faça sol, sombra, calor ou frio. À excepção de flores em ramos, gosto e sempre gostei de quase todas as plantas e flores, natureza em geral, orquídeas incluídas, em especial as mais pequenas, mais frágeis, algum psicanalista saberá explicar. As orquídeas estavam quase mortas, por falta de água e de sol. Fiquei a inspeccioná-las uns minutos e, percebendo que estava a parecer ridícula, lembrei-me daquela frase que me informava da razão de eu ver estas coisas que a maior parte das pessoas não vê. Sentei-me. Será que ele tem razão?

Não, não tem. Eu vejo muito bem o que me rodeia. Vejo, todos os dias, pessoas cheias de preconceitos sobre o que é ser ou ter, sobre o que é saber ou fingir que se sabe, sobre o que é partilhar conhecimento ou exibir conhecimento. Vejo, todos os dias, pessoas cheias de certezas absolutas que não querem escutar o que quer que seja que contrarie as suas certezas. Vejo, todos os dias, pessoas na rua a pedir e, muitas delas, não são simples sem-abrigo, é muito mais complexo e feio do que isso. Vejo, todos os dias, pessoas que trabalharam uma vida inteira e que agora lhes tiram os direitos que conquistaram. Vejo, todos os dias, pessoas a ir à farmácia e escolherem os medicamentos que podem levar para casa enquanto outras pessoas escolhem passar férias na Comporta ou em Bali. Vejo, todos os dias, pessoas a falar em mudança social sem olharem ao espelho e questionarem o que podem mudar em si próprias, o que podem fazer enquanto indivíduos. Vejo. E não tento não ver. Mas isso não me impede de ver os tais detalhes que fazem de mim, aparentemente, alguém demasiado sensível. Demasiado sensível sim, deliberadamente cega não. 

Tuesday, October 15, 2013

Textos complexos, incompreensíveis, que precisam de um dicionário para serem lidos são altamente valorizados nas artes e no meio académico. "Que texto fantástico" é o equivalente a "não percebi nada, deve ser muito inteligente". Recuso-me a escrever para elites que, francamente, também não sabem o significado de metade do que está escrito nesses textos ditos complexos. Recuso-me a escrever um texto que é para estar na parede de um museu em que os seguranças do próprio museu não percebem o que está escrito e ninguém se dá ao trabalho de lhes explicar (talvez porque não sejam explicáveis). Recuso-me a escrever um texto em que é preciso passar metade do tempo que o escrevo a pensar como usar sinónimos incompreensíveis para palavras simples. Recuso-me a citar autores que não li e de que sei apenas referências. Recuso a complexidade pela complexidade. Parece-me, sinceramente, que o conhecimento poderia servir para ser partilhado que é muito diferente do que ser exibido.

Monday, October 14, 2013


Roubado descaradamente daqui.
Alguém que leia este blog ao engano, alguém que pare aqui, uma alma caridosa que faça o favor de aconselhar um livro? Um livro que não seja do Paulo Coelho ou afins. Saramago, com nobel ou sem nobel, não consigo lê-lo. Assim em poucas palavras, um livro que não seja de auto-ajuda, nem de histórias das senhoras que querem convidar as amigas no chá para um lançamento de um livro num evento qualquer num sitio "cheio de gente gira". Um livro que não precise de ter um dicionário ao lado para decifrar cada parágrafo e que não me faça reler cada página para poder passar à seguinte.

Agora que acabo de ler o que escrevi, vejo semelhanças com os briefings de quando trabalhava em design. Pior, semelhanças com os pedidos de textos críticos e de exposições. O caso está grave. 

Thursday, October 10, 2013

Sempre que me dizem "sinto muito", lembro-me de um comentário de um amigo (ou era só colega? já foi há muito tempo) que dizia a propósito de eu dizer que um outro amigo (ou só colega, já disse que foi há muito tempo) era muito sensível. Ele, do alto dos seus então 12 ou 13 anos, respondeu-me com um seco "pois, deve ser. deve ser sensível ao vento." É mais ou menos isso que gostava de responder agora a todos os "sinto muito". Deve sentir muito. O quê, exactamente? 

As pessoas dizem coisas para ajudar, para serem simpáticas, porque fica bem. Mas, às vezes, parece-me que o uso que dão às palavras não é muito diferente do uso dado por papagaios.
- ainda bem que não foste tu.
- porquê?
- porque és tão nova, se calhar é estúpido dizer isto mas é suposto serem as pessoas mais velhas a morrer primeiro.
- pois, é verdade. é estúpido dizer isso.

Wednesday, October 9, 2013

O meu pai tem a 4ª classe. Tem (recuso-me a falar no passado), também, muito mais cultura de vida do que eu com aqueles papéis ridículos, um cor de rosa escrito a latim que ninguém percebe, outro beige, a cor mais feia do espectro de cores, com um emblema idiota que parece um brazão, que atestam os meus graus académicos. Num dos muitos cafés que gostava (entretanto, fartou-se daquele) insistiam em chamar-lhe "Sr. Engenheiro". "Sr. Engenheiro, o cafézinho está bem assim? Hoje não vai um bolinho?" O meu pai ainda tentou dizer "Não sou engenheiro" mas nunca teve muito sucesso em demover aquele senhor em tratá-lo com aquele título.

As pessoas têm esta necessidade ridícula de serem reconhecidas pelos títulos, pelo dinheiro, pelo nome se for de uma família reconhecida. Escrevo estas palavras e o sangue aquece-me. As pessoas são pessoas e não valem pelo que estudam, pelo cargo que ocupam, por nada que seja palpável ou escrito em papeis com aspecto de pergaminho ridículo. Tanto tempo que a humanidade precisa para evoluir.
Rodeada de pessoas de fato, com ar importante, sério, muito sério, a falar em várias línguas, a escrevinhar coisas certamente muito importantes e teclar ao mesmo tempo (diz-se teclar em ecrans tácteis?), questiono se estas pessoas com ar importante e sério foram, alguma vez, crianças. Depois, olho para mim, de calças de ganga, ténis. Volto a olhar para eles, muitos não são mais velhos que eu. Fico a pensar se eles pensam, por algum minuto de pausa, se o fizerem, se alguma vez deixei ou deixarei de ser criança. E percebo o quão simplista pode ser um (o meu) pensamento baseado em aparência. Mas, mesmo assim, com todo o esforço, não consigo olhar para estas pessoas e imaginá-las crianças. 

Monday, October 7, 2013

Eine Verbesserung erfindet nur der
Welcher zu fuhlen weiss:
"Dies ist nicht gut"

(Só consegue melhorar as coisas aquele que sabe sentir: "Isto não está bem".)

- Nietzsche citado por Ilse Losa em "O mundo em que vivi", 1987.
O problema das memórias é que não podemos voltar aos lugares delas. Fica só a saudade imensa e querer voltar para dizer o que não foi dito, todos os obrigadas, todos os pedidos de desculpa, e fazer tudo o que não foi feito.

Wednesday, October 2, 2013

Abutres.

"S.pe.(o) 
1.Ave de rapina, voraz, infecta, e pesada, de asas compridas, que vive de restos de animais mortos ou de carniça, comum no continente africano.
2.Fig. Homem que é voraz."


Thursday, September 26, 2013

Instruções para atirar lixo para debaixo do tapete:

"The covering of the Senne (French: voûtement de la Senne, Dutch: overwelving van de Zenne) was one of the defining events in the history of Brussels. The Senne/Zenne (French/Dutch) was historically the main waterway of Brussels, but it became more polluted and less navigable as the city grew. By the second half of the 19th century, it had become a serious health hazard and was filled with pollution, garbage and decaying organic matter. It flooded frequently, inundating the lower town and the working class neighbourhoods which surrounded it.
Numerous proposals were made to remedy this problem, and in 1865, the mayor of Brussels, Jules Anspach, selected a design by architect Leon Suys to cover the river and build a series of grand boulevards and public buildings. The project faced fierce opposition and controversy, mostly due to its cost and the need forexpropriation and demolition of working-class neighbourhoods. The construction was contracted to a British company, but control was returned to the government following an embezzlement scandal. This delayed the project, but it was still completed in 1871. Its completion allowed the construction of the modern buildings and boulevards which are central to downtown Brussels today.
In the 1930s, plans were made to cover the Senne along its entire course within the greater Brussels area, which had grown significantly since the covering of the 19th century. The course of the Senne was changed to the downtown's peripheral boulevards. In 1976, the disused tunnels were converted into the north-south axis of Brussels' underground tram system, the premetro. Actual purification of the waste water from the Brussels-Capital Region was not completed until March 2007, when two treatment stations were built, thus finally cleansing the Senne after centuries of problems."

(aqui)