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Saturday, August 17, 2013

Friday, August 16, 2013


Há qualquer coisa de desconcertante em estar sentada num café num país longe de Portugal em que as únicas vozes (e bastante altas) que se ouvem são de três portuguesas (tive que voltar a olhar para as contar porque aos meus ouvidos, parecem dez) que misturam palavras portuguesas com "voilá" e "ah bon". Peço-lhes que baixem o tom e deixo-as perceber que sei o que estão a dizer ou imagino o Jack Nicholson na cena do machado no Shinning na mesa delas?

Urs Fischer no MOCA.
© Urs Fischer 
cortesia MOCA

Thursday, August 15, 2013

Isto do dinheiro tem muito que se diga. Podemos falar da crise, podemos falar de brincar aos pobrezinhos, podemos falar na emigração, podemos invocar tanta coisa para justificar que precisamos de mais e mais dinheiro. Não estou a defender que não precisamos de dinheiro, sou idealista mas também gosto de muita coisa que não posso fazer sem dinheiro.

Não vou agora escrever sem parar sobre um assunto que dá pano para mangas e está cheio de preconceitos e vou invocar a crise de tempo como desculpa para não o fazer. Afinal, a crise serve de desculpa para quase tudo. Mas vou escrever sobre um episódio curto, numa viagem.

O overbooking, tanto quanto sei, é ilegal. Há uns dias, em Frankfurt, um avião da Lufthansa para Lisboa estava lotado e a menina do balcão apressou-se em apresentar uma solução rápida e ideal aos passageiros, na maioria, provavelmente, emigrantes portugueses. Portugal está em crise, sim. Há emigrantes de todos os tipos, dos do estereótipo dos emigrantes que carregam aquelas coisas azuis que congelam sei lá o quê e levam um mercedes branco para Portugal em Agosto, dos que vão estudar, dos que vão em busca de um sonho ou respondem a uma oportunidade irrecusável para eles, dos que querem ter uma experiência internacional, dos que não encontram trabalho em Portugal e encontram noutro país, dos que encontraram alguém noutro país ou acompanham alguém para outro país, e haverão muitos outros. Mas, aos olhos daquela menina do balcão da Lufthansa, aqueles emigrantes estavam todos vestidos com uma camisola do Futebol Clube Lá Da Terra e também desejosos de arrecadar mais dinheiro para as férias lá na terra das praias e do futebol. A solução, para ela, foi fácil: "Estamos a oferecer 400 euros a dois passageiros - mas são 400 euros por pessoa - a quem se queira voluntariar para ir no voo de amanhã para Lisboa". A minha vontade foi dizer-lhe onde podia colocar os 400 euros. Mas fiquei-me por visualizar aquela cena final do Zabriskie Point naquele balcão da Lufthansa. E quase fiquei mais calma.
No outro dia, o meu sobrinho mais velho dizia-me "titi, preciso de um computador novo, assim um Mac como o teu, grande." O meu sobrinho mais velho tem 11 anos feitos há poucas semanas. Dizia-me que é um adolescente, não uma criança e o quão precisa de um computador para a escola.

Expliquei-lhe a diferença entre precisar e querer. Contei-lhe que a primeira vez que pude mexer num computador tinha 16 anos e era o computador da minha irmã, mãe dele, que ela, sim, precisava de um computador para os trabalhos do último de 5 anos da faculdade. Mexi no computador, mas usar só quando entrei para a faculdade, quando era de facto necessário e, mesmo assim, foi um uso partilhado com a minha irmã. Contei-lhe também que fiquei com o computador da mãe dele quando ela pôde comprar um. Contei-lhe como e quando comprei o meu primeiro computador. Não lhe contei como o escavaquei, depois dos dez meses que demorei a pagá-lo, porque estragava a história. No fim da história, o meu sobrinho ficou muito pensativo e virou-se para a PSP novinha, a jogar a qualquer coisa daquelas da FIFA (sim, sou Jurássica) e quase lhe perguntava porque é que não ía ler um dos meus livros antigos quando me lembrei que já tinha sido chata o suficiente para um mês e controlei-me, a custo. No dia seguinte, veio dizer-me que afinal não precisava de um computador novo e grande mas que, um dia, queria muito ter um computador igual ao meu e que iria jogar à bola como o Ronaldo (não sei se todos os rapazes agora querem ser futebolistas mas ele assegurou-me que é a profissão dos sonhos dele, e que não é por ganharem muito dinheiro - esta parte deve ter sido para não ouvir mais um discurso de uma hora) e assim poderia comprar o computador para ele e muitas prendas para a titi, os pais e a vóvó. Informou-me ainda que tinha pedido ao pai para ficar com o computador velho dele, para fazer os trabalhos da escola (aparentemente, agora, usam mesmo computador na Escola Preparatória).

E eu, fiquei a perceber a diferença entre aprender e ensinar. Pensei que lhe estava a ensinar uma grande lição e aprendi que uma criança de 11 anos sabe muito de partilha e de generosidade, no seu mundo, no seu contexto. Ensinou-me que as necessidades mudam com o tempo e que as minhas verdades e o meu contexto não é e não tem que ser o dele. Ensinou-me que há crianças que sabem que podem ter muita coisa e, mesmo assim, escolhem não ter tudo, porque, realmente, não precisam de ter tudo para ser tudo.  
O conceito de pobreza por aqui não será muito diferente da senhora que gosta de brincar aos pobrezinhos na Comporta. 

Na rua, dois artistas e estudantes estavam a tocar guitarra e a cantar, bastante bem. Atrás, num cartaz, podia ler-se a letras coloridas, escritas à mão: "Poor music students playing to buy a new guitar, please contribute." A pobre estudante e artista, vocalista, lia pacientemente a letra da música num paupérrimo iPad. Fiquei sem saber se lhe comprava uma guitarra ou se corria à loja da Mac mais próxima para encontrar o último modelo do iPad, que aquele modelo é coisa de estudante pobre. 
- como descobrir a capacidade dos olhos aguentarem fealdade no seu pior?
- visitando sites de casas para arrendar. Em poucos minutos, é possível descobrir a resistência ocular. A minha é fraquíssima. 
"tranquillement" my ass.

Monday, August 5, 2013

Sala Invertida, 2013

- Diego Bravo, Marcelo Arenas, Felipe Mayorga, Gabriel Holzapfel e Jaime Casas (estudantes da Universidade Católica de  Valparaíso, Chile)

(retirado daqui).

Friday, August 2, 2013


Ana: Dad! How do you spell "beautiful"?
Uxbal: Like that, like it sounds.

- Biutiful, 2010

El Chivo: At the time, I thought there were more important things than being with you and your mom. I wanted to set the world right, and then share it with you. I failed, as you can see.

- Amores Perros, 2000

Thursday, August 1, 2013

«Era uma vez um pintor que tinha um aquário com um peixe vermelho. Vivia o peixe tranquilamente acompanhado pela sua cor vermelha até que principiou a tornar-se negro a partir de dentro, um nó preto atrás da cor encarnada. O nó desenvolvia-se alastrando e tomando conta de todo o peixe. Por fora do aquário o pintor assistia surpreendido ao aparecimento do novo peixe.»

- Herberto Helder, Os Passos em Volta, 2009