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Thursday, September 26, 2013

Instruções para atirar lixo para debaixo do tapete:

"The covering of the Senne (French: voûtement de la Senne, Dutch: overwelving van de Zenne) was one of the defining events in the history of Brussels. The Senne/Zenne (French/Dutch) was historically the main waterway of Brussels, but it became more polluted and less navigable as the city grew. By the second half of the 19th century, it had become a serious health hazard and was filled with pollution, garbage and decaying organic matter. It flooded frequently, inundating the lower town and the working class neighbourhoods which surrounded it.
Numerous proposals were made to remedy this problem, and in 1865, the mayor of Brussels, Jules Anspach, selected a design by architect Leon Suys to cover the river and build a series of grand boulevards and public buildings. The project faced fierce opposition and controversy, mostly due to its cost and the need forexpropriation and demolition of working-class neighbourhoods. The construction was contracted to a British company, but control was returned to the government following an embezzlement scandal. This delayed the project, but it was still completed in 1871. Its completion allowed the construction of the modern buildings and boulevards which are central to downtown Brussels today.
In the 1930s, plans were made to cover the Senne along its entire course within the greater Brussels area, which had grown significantly since the covering of the 19th century. The course of the Senne was changed to the downtown's peripheral boulevards. In 1976, the disused tunnels were converted into the north-south axis of Brussels' underground tram system, the premetro. Actual purification of the waste water from the Brussels-Capital Region was not completed until March 2007, when two treatment stations were built, thus finally cleansing the Senne after centuries of problems."

(aqui)

Monday, September 23, 2013

"do que se haveria de lembrar o vento quando, por se sentir tão sozinho, decidiu incentivar umas galinholas e uns passarocos a levantar voo. desta forma, voando por todo o lado, os animais mais leves e ágeis poderiam ser a mais bonita companhia no extenso campo que também é o céu."
- valter hugo mãe, a verdadeira história dos pássaros (2009)

Sunday, September 22, 2013

Um canalizador é pago. Quando vamos a um café, pagamos o café ou seja lá o que for. Um engenheiro não faz um desenho ou projecto sem que lhe paguem. Um advogado (a menos que esteja a trabalhar pro bono - e isto tem muito que se lhe diga) é pago para defender alguém ou alguma coisa. Um designer, um artista, um curador, ser pago? A quantidade de trabalho não falta. Mas vem seguida de "regime voluntário". Claro que também há estágios mas há algum pudor em propor estágios a pessoas com cerca de 30 anos. Então, nada como propor oportunidades. É uma oportunidade trabalhar com X, ou Y ou Z ou para as instituições, fundações, museus, o raio de graça porque "é uma oportunidade".

Será que posso dizer no próximo café em que entrar que eles estão a ter uma fantástica oportunidade de aperfeiçoar a técnica do café porque posso dar-lhes dicas de como tirar o café de modo a ficar forte e quente sem demasiada espuma e sem queimarem o desgraçado do café? Soa absurdo. Soa absurdo propor oportunidades, trabalho gratuito a todas as profissões. Excepto às criativas. Afinal, as pessoas criativas estão a divertir-se. Muitas, nem horários têm. Trabalho é no escritório, das 9h às 17h e com horas extraordinárias. Trabalho fora dos moldes, sem horário e local fixo, é brincadeira. Ora, se é brincadeira e os criativos até têm um ar bem disposto, é uma alegria trabalharem, vamos lá dar-lhes mais oportunidades de trabalho - voluntário.

Estas oportunidades vêm em várias formas. "Acreditas nesta causa? Junta-te a nós. Tens é que trabalhar de graça para uma causa que nem é tua mas isso não interessa nada agora." Também há a clássica: "Não tens portfolio / CV, esta é uma oportunidade excelente de trabalhares com X e Y e ficares por dentro e olha, ficas com trabalho feito." De graça pá, de graça! Mas será que os criativos não comem e não pagam casa e médicos e farmácia e contas? Seremos uma espécie diferente?

Licenciei-me em Design de Comunicação há 10 anos. Trabalho como curadora (não, não é decoradora) e critica de arte há 7 anos. Trabalhei em Agências de Publicidade, Ateliers, trabalho em Museus, Faculdades, Fundações. Com 32 anos de vida, quase 20 de estudo, 10 de experiência de trabalho, raras vezes agora mas serão sempre demais, ainda me vêm com oportunidades de trabalho voluntário (também há à comissão, outro conceito maravilhoso que pensei ser só para os vendedores mas afinal não, também é para nós). Faço algum (cada vez menos e com mais relutância) trabalho de graça quando entendo que as pessoas envolvidas não podem pagar e quando quero. Mas faço-o agora porque tenho uma base suficiente para me colocar comida à mesa. E, sinceramente, não sei se o deveria fazer de todo porque se ninguém fizer, estas oportunidades falsas irão desaparecer por falta de resposta.

O problema é que estas fantásticas oportunidades são responsáveis do facto dos recém licenciados, recém mestres, de áreas como design e curadoria (provavelmente outras também mas estas são as que conheço) sejam obrigados a trabalhar num dos tais trabalhos das 9h às 17h, por turnos, em call-centers e afins para pagarem as contas e poderem continuar a fazer o que gostam. Como se fosse um crime trabalhar no que se gosta e fosse preciso passar por uma espécie de provação. Digo e repito, não passo "oportunidades" para pessoas, sejam ex-colegas, colegas, ex-alunos ou alunos de trabalho voluntário gratuito. Há pessoas que se vêm forçadas, desesperadas por trabalhar na área para a qual estudaram e acreditam que esta é uma via. talvez seja mas não ad eternum. E é mesmo preciso pôr comida no prato, tal como o canalizador tem fome, nós também temos. Querem um logotipo? Querem uma exposição? Paguem. Não vou alimentar um não sistema e não vou ajudar ninguém a alimentá-lo. 

Friday, September 20, 2013

quando for grande, gostava de escrever assim sobre arte:

"Há uma história contada por Carl Gustav Carus que pode ajudar a ver estas pinturas de João Queiroz: conta o pintor que, estando a produzir uma pintura de um luar, descontente com o desenvolvimento da obra, foi visitar Caspar David Friedrich, por quem tinha uma enorme admiração. Ter-lhe-á este dito que o fracasso da pintura residia no facto de Carus ter pintado a noite e só depois a luz da lua. Deveria ter feito exatamente o contrário: pintar a luz e escondê-la, deixando que ela atravessasse as camadas de velatura."

- Delfim Sardo, 2013

Tuesday, September 17, 2013

Pai,

A tua médica chama-se Petra. Certamente será coincidência, mas o nome assenta-lhe que nem uma luva. Quando acordares, vais perceber. Explicou-me que podia acontecer o "pior dos piores" ou o "melhor dos piores" acentuando que estava a simplificar a explicação para eu perceber. Pensei dizer-lhe que não fazia ideia de qual era o meu curso ou cursos, que eu estar de calças de ganga e ténis e descabelada era o fruto de andar à tua procura desde as 9h da manhã e ter tentado abrir a porta da tua casa sem sucesso, ter falado com polícia e bombeiros que arrombaram a tua porta de casa (desculpa por isso), ter corrido todos os cafés onde costumas ir, hospital e só ter parado naquele momento, no hospital e quarto em que te colocaram. Pensei dizer-lhe que mesmo que lhe dissesse o meu grau académico, isso não seria sinónimo de cultura e sabedoria imensa, é apenas um conhecimento específico, como o dela também é. Depois, lembrei-me que talvez não fosse muito boa ideia chatear uma das pessoas que controla uma das máquinas a que te ligaram. Achas que posso dizer-lhe depois de acordares? Dizemos-lhe os dois? Pois, também acho que não vale a pena. Temos mais que fazer.

Acho que te disse que o Centro Comercial Alvalade reabre este mês. Mas não tenho a certeza se te disse. Não sei se vão abrir o mesmo café a que nós íamos aos Domingos de manhã mas depois vamos lá ver. Tens é que te despachar a acordar para irmos lá. Sabes que a tua médica explicou-me que tu não me ouves? Tem muitas certezas, a tua médica. Eu acho que tu me ouves e vou continuar a falar contigo até acordares e vê lá se te despachas, tu sabes que eu não gosto nada de esperar, que quero tudo para ontem. Já sei que me disseste que tenho que aprender a esperar mas ainda não aprendi. Se queres tanto que eu aprenda, tens que me explicar como.

Entretanto, no caminho para casa da mãe, passei pela loja onde compraste o Panda gigante. Já não se chama Trenó e acho que é uma loja Chinesa ou qualquer coisa do género. Tenho muitas coisas para te contar. A tua vizinha disse que queria saber como estás mas não tenho o número de telefone dela e, não leves a mal, mas a senhora parece chata como a potassa.

Tive oportunidade de dizer-te muitas coisas mas não te disse o mais importante. Pensava que tinha mais tempo, logo eu que penso sempre que nunca tenho tempo suficiente. E ainda não te dei a tua prenda de aniversário, é um conjunto de fotografias antigas minhas e da Susana que ainda não consegui acabar porque não tive tempo, parece ser uma coisa recorrente. Hoje, vi na tua casa que tens todas as fotografias que te demos e tens também dos teus netos mas estão muito desactualizadas. Desculpa ter pedido aos bombeiros que arrombassem a tua porta de casa mas tu não respondias às chamadas e não apareceste no café como tínhamos combinado. Preciso mesmo que acordes, por favor.


Beijinhos,
Luísa

Friday, September 13, 2013

As pessoas são más é uma frase que digo muitas vezes, talvez vezes demais, correndo o risco de ser repetitiva e negativa. Mas, não o digo sem fundamento nem para chatear quem quer que seja.

Cada vez vejo mais pessoas com caras zangadas e que fazem questão de deixar quem os rodeia mal disposto. Assim como se houvesse uma espécie de alívio se for um mal estar colectivo. Como se o mal estar de um passasse se todos os outros estiverem também mal dispostos e zangados, francamente zangados.

Quem me conhece relativamente bem, sabe que gosto muito de animais e que jamais conseguirei perceber quem trata mal um animal. Considerarei sempre um acto de cobardia. Não sou uma pessoa de revoltas nem de revoluções, estou longe de ser activista na prática, sou uma teórica que gosta de estudar, de perceber e de escrever na esperança que o estudo, a análise e a divulgação de problemas sociais, possam levar a uma reflexão e, potencialmente a soluções. Isto, ou sou apenas uma preguiçosa que não sabe lutar na prática. Mas isso é outra conversa. No entanto, tudo o que esteja relacionado com maldade para com seres (humanos ou não) frágeis, desperta em mim um lado prático de querer levar as mãos ao pescoço de quem quer que seja que tente, cobardemente, fazer mal a alguém que não tem como se defender.

Ontem à noite, mataram cobardemente a gata da minha irmã e dos meus sobrinhos. Envenenada, ficou a contorcer-se até à morte numa vala junto à vivenda vizinha da minha irmã, até à hora em que o meu cunhado a encontrou, sozinha, morta. Estou desde ontem à noite a pensar as coisas que quero dizer à pessoa que fez isto. Que deixou os meus sobrinhos, de 6 e 11 anos, em lágrimas, que matou uma gata de um ano de idade que não lhe fez mal nenhum. Provavelmente, ela dorme bem, agora que passou o seu mal estar com a vida para mais alguém. As pessoas são más. Digam o que quiserem mas esta é a minha convicção. Gratuitamente más. E a maldade contagia-se. Hoje, sou uma pessoa pior, zangada, com vontade de apertar o pescoço da pessoa que matou a pobre da gata.
As pessoas são incrível, surpreendente e terrivelmente más. Gratuitamente más. E contagia-se. O mundo está cheio destas pessoas. 

Wednesday, September 4, 2013


Os dicionários são objectos incompletos.

Na minha infância, a minha mãe fazia uns desenhos de casas, em que haviam sempre duas janelas com cortinas abertas, um telhado de telhas às ondas, e uma porta muito grande. Ao lado, aparecia desenhado, inevitavelmente, um gato gordo sentado. Ao lado do gato, um baloiço. A casa não tinha cerca, aparecia sempre livre na página, suportada por uma linha horizontal onde o gato se sentava, com a cauda comprida a enrolar. A nossa casa estava longe dessa imagem. Vivíamos num prédio Lisboeta dos anos 50, alto, num 5º andar sem elevador. Mas tinha janelas sempre com cortinas abertas, uma porta grande para deixar os vizinhos entrar, num tempo em que os vizinhos se conheciam, conversavam e escutavam e até eram amigos e partilhavam histórias e preocupações. Tínhamos uma gata, gorda, mas não tão gorda como o gato dos desenhos da minha mãe. A casa sempre foi importante para a minha mãe, "é o lugar da família e onde recebes as pessoas que te são queridas" dizia-me.

A casa da minha mãe, percebi mais tarde, não é aquele 5º andar cheio de cantos e recantos, varanda longa, corredor onde a minha irmã e eu corríamos desenfreadamente. Também não é a casa das telhas ondeadas e do gato gordo. A casa da minha mãe não tem paredes e não aparece em mapas ou GPS. Foi, provavelmente, um dos melhores conceitos que aprendi até hoje com a minha mãe. Todas as casas de paredes são realmente lindas quando estamos verdadeiramente em casa.

Monday, September 2, 2013

© Rebecca Chesney, Still in Silence, 2013


texto de uma ex-professora com quem aprendi (e continuarei a aprender) muito:

"In the fields around Preston, Rebecca Chesney has recently been exploring connections between birds, humans and catastrophe. Her work is characterised by a particular rural sensitivity. While addressing the fragility of the bee population, for example, her images are imbued simply with the glorious beeness of bees. She is palpably torn between the pleasure of working in and with nature, and with people, as she investigates environmental issues; but also with presenting distilled images which do indeed increasingly confront us."
- Michaela Crimmin

activismo em 2013 vem em forma de workshop.