É comum, nisto da cultura, trabalhar de graça. É comum, nisto da cultura, fazer estágios não remunerados até aos 30 anos. É comum, nisto da cultura, apresentarem propostas de - espera, como é que vou dizer o que estou a pensar, só um momento para acalmar e procurar o meu lado diplomata - propostas de ordenado mínimo a pessoas com doutoramentos como se fossem oportunidades fantásticas de crescimento. É comum, nisto da cultura, termos pessoas a trabalhar ao abrigo do 1º emprego quando já vão no 3º. É comum, nisto da cultura, mascarar recibos verdes de emprego.
Mas, nisto da cultura também é comum ter cargos de direcção com vencimentos iguais a de empresas não culturais. É comum, nisto da cultura, haver ordenados a sério, daqueles normais em que não é preciso contar os cêntimos para pagar a renda. É comum, essas pessoas que andam com iPhone numa mão, iPad na outra e BMW estacionado à porta, dizerem que o lugar que dirigem é assim, como dizer? Um lugar de cultura, sem fins lucrativos, estamos todos no mesmo barco (só que o meu barco é o metro e o deles é o assento do BMW) e pronto, têm que oferecer cargos séniores pelo valor de um estágio - literalmente. Na verdade, não é literalmente, são menos uns euros mas vamos arredondar as contas. Nisto da cultura, é comum baixarmos a cabeça, aceitarmos tudo com naturalidade porque temos culpa de fazermos o que gostamos. A culpa, afinal, é nossa. Quem nos mandou estudar isto de cultura? Que audácia é essa de ir trabalhar e gostar do que se faz? Era o que faltava! Fazes o que gostas? Então pagamos-te uma - espera, outra vez, um momento para não dizer o que estou a pensar - não resultou, temos pena - uma verdadeira merda. Vão-se todos lixar.
É isto a cultura? Então, se é isto, fiquem com ela e com as vossas oportunidades, façam vocês o trabalho que estão a pedir que vos façam porque eu, meus amigos da cultura, não o farei. Eu não vou contribuir para o vosso não sistema.
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