As tardes de chuva passadas atrás de uma janela com vista para um jardim, cheiram-me sempre a torradas e doce de morango.
Até aos meus 5 anos, a minha avó torrava pão e barrava-o, generosamente, com doce de morango da Casa Mateus. Muitas vezes, queimava o pão em vez de torrá-lo. Não era uma avó dita tradicional, daquelas dos contos infantis, muito perfeitas, velhinhas e doces, que adoram cozinhar. A minha avó, alta, elegante, cheia de força e segurança, de olhos muito azuis e cabelo de uma cor que nunca consegui descrever mas nunca foi branco nem grisalho, não gostava de tachos e panelas. Mas fazia umas torradas, que mesmo queimadas, tinham um cheiro único. Era um cheiro de conforto, com a chuva lá fora e nós lá dentro, a ouvir a chuva a cair no telhado e a vê-la pelas janelas enormes que davam para as traseiras, onde havia uma espécie de jardim. As torradas anunciavam que seriam perto das 17h e que, dali a pouco, viria a minha mãe para irmos a um jardim. Se estivesse a chover, teria direito às galochas coloridas e a saltar nas poças sem repreensões.
As tardes de chuva passadas atrás de uma janela com vista para um jardim, cheiram-me sempre a torradas e doce de morango. E ao conforto do colo da minha avó e dos passeios com a minha mãe e irmã nas tardes de chuva calçadas de galochas coloridas.
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