Há uns anos, tinha muito bom feitio. Até diziam, com aquele ar simpático, quase maternal, que eu era uma pessoa "fofinha, muito querida". Há muito tempo que os meus amigos e conhecidos não me dizem tal coisa. Lembro-me de uma professora de filosofia, talvez no 9º ano, dizer que não queria ser "boazinha" porque, para a maior parte das pessoas, ser boazinha era igual a ser parvo. Na altura, não percebi.
De há uns anos para cá, o meu bom feitio de outrora classificado por amigos e conhecidos de "fofice e queridice", transformou-se no que as mesmas pessoas e outras com quem fui cruzando caminhos, chamam agora de "grande acertividade e segurança". Parece-me que se a minha professora de filosofia pudesse dizer alguma coisa sobre o assunto, diria que essas características, para a maior parte das pessoas, são iguais a ser arrogante.
Hoje, a pedir um café em Francês, um idioma que domino quase tão bem como Mandarim ou Grego, fui alvo, mais uma vez, de revirar de olhos. Nos últimos anos, tenho constatado que o atendimento ao público deve ser algo de extremamente doloroso pelos esgares e falta de educação de que sou alvo fácil em culturas que não domino mas também em culturas que conheço bem. No último ano, já perdi a conta das vezes em que chamei um gerente, escrevi uma carta de reclamação ou respondi no mesmo tom (perdendo, claramente, a razão). Hoje, decidi tentar ter bom feitio e escolhi pensar que este rapaz de olhos incrivelmente redondos (ou ficaram demasiado redondos quando os revirou, não sei) pode ter muitos problemas e tem direito a um dia mau. Respondi-lhe com o meu melhor sorriso e um "Muito obrigada pelo café, está óptimo. Espero que tenha um bom dia." E não é que ele sorriu e os olhos ficaram fixos sem revirar e até pareceram fazer parte do sorriso? Talvez seja parva aos olhos de muitos, arrogante aos olhos de tantos outros mas, o que gostava mesmo, era de não precisar de ser nem uma nem outra. Mas, para isso, era preciso todos aprendermos o significado de respeito pelo próprio e pelo outro, sem artifícios e sem esforços, que é uma tarefa, aparentemente, muito complicada.
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