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Wednesday, October 16, 2013

Há uns anos, alguém dizia qualquer coisa como "vês as cores das árvores, ligas a esses detalhes da natureza e essas coisas para não veres o que te rodeia, és demasiado sensível". Na altura, não soube responder. Durante muito tempo, pensei que aquele senhor tão mais velho do que eu, com tanto mais conhecimento do que eu, estivesse certo.

Hoje, entrei num café e vi três vasos com orquídeas que, coitadas, agora parecem ser a flor / planta da cena e são obrigadas a estar em todos os cafés da cena, faça sol, sombra, calor ou frio. À excepção de flores em ramos, gosto e sempre gostei de quase todas as plantas e flores, natureza em geral, orquídeas incluídas, em especial as mais pequenas, mais frágeis, algum psicanalista saberá explicar. As orquídeas estavam quase mortas, por falta de água e de sol. Fiquei a inspeccioná-las uns minutos e, percebendo que estava a parecer ridícula, lembrei-me daquela frase que me informava da razão de eu ver estas coisas que a maior parte das pessoas não vê. Sentei-me. Será que ele tem razão?

Não, não tem. Eu vejo muito bem o que me rodeia. Vejo, todos os dias, pessoas cheias de preconceitos sobre o que é ser ou ter, sobre o que é saber ou fingir que se sabe, sobre o que é partilhar conhecimento ou exibir conhecimento. Vejo, todos os dias, pessoas cheias de certezas absolutas que não querem escutar o que quer que seja que contrarie as suas certezas. Vejo, todos os dias, pessoas na rua a pedir e, muitas delas, não são simples sem-abrigo, é muito mais complexo e feio do que isso. Vejo, todos os dias, pessoas que trabalharam uma vida inteira e que agora lhes tiram os direitos que conquistaram. Vejo, todos os dias, pessoas a ir à farmácia e escolherem os medicamentos que podem levar para casa enquanto outras pessoas escolhem passar férias na Comporta ou em Bali. Vejo, todos os dias, pessoas a falar em mudança social sem olharem ao espelho e questionarem o que podem mudar em si próprias, o que podem fazer enquanto indivíduos. Vejo. E não tento não ver. Mas isso não me impede de ver os tais detalhes que fazem de mim, aparentemente, alguém demasiado sensível. Demasiado sensível sim, deliberadamente cega não. 

2 comments:

  1. Se tivessemos sido concebidos para falar mais que observar, teríamos nascido com 2 bocas, 1 ouvido e 1 olho. Sim, está certa!

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    1. nunca tinha pensado nisso, da relação com nascermos com 2 olhos, sermos mais propensos para a observação. a chatice é que também há pessoas que parece que nascem com 2 ou 3 bocas e 0 ouvidos e não percebem que há quem goste mais de ver e ouvir do que de falar.

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