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Tuesday, October 15, 2013

Textos complexos, incompreensíveis, que precisam de um dicionário para serem lidos são altamente valorizados nas artes e no meio académico. "Que texto fantástico" é o equivalente a "não percebi nada, deve ser muito inteligente". Recuso-me a escrever para elites que, francamente, também não sabem o significado de metade do que está escrito nesses textos ditos complexos. Recuso-me a escrever um texto que é para estar na parede de um museu em que os seguranças do próprio museu não percebem o que está escrito e ninguém se dá ao trabalho de lhes explicar (talvez porque não sejam explicáveis). Recuso-me a escrever um texto em que é preciso passar metade do tempo que o escrevo a pensar como usar sinónimos incompreensíveis para palavras simples. Recuso-me a citar autores que não li e de que sei apenas referências. Recuso a complexidade pela complexidade. Parece-me, sinceramente, que o conhecimento poderia servir para ser partilhado que é muito diferente do que ser exibido.

4 comments:

  1. Sobre os textos que acompanham as obras nos museus, não era mais interessante que tivessem perguntas para fazer as pessoas pensar e olhar melhor para as obras, com mais atenção, em vez de serem um matacão de informação avulsa e muitas vezes desinteressante que as pessoas esquecem 5 segundos depois?

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    1. claro que sim. há uns anos fui ao museu do chiado e não percebi metade do texto que acompanhava a exposição. não percebi palavras, não foi só o texto, a questão do dicionário neste caso foi mesmo literal. há alguns exemplos de museus que escrevem para as pessoas perceberem e que fazem questão de que os textos sejam pistas para as pessoas irem à procura de mais informação, ficarem curiosas. curisosamente, esses museus são rapidamente apelidados de pedagógicos com o pior dos sentidos. a maior parte dos museus parece ter esta necessidade de snobeira de escrever textos longos, chatos, incompreensíveis. e sabes o que é mais engraçado? é que quando alguém escreve um texto simples, que as pessoas percebem, que levanta algumas questões mas não diz tudo, ficam com uma espécie de urticária porque é "levezinho". simples não é necessariamente leve e acho que a ideia é que as pessoas leiam e se interessem, que queiram saber mais, que queiram voltar. mas como explicar isto às aventesmas da snobeira?

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  2. Eu tenho outro problema com esses textos-legenda: a graduação dos meus óculos para a miopia é muito forte portanto vejo as coisas naturalmente mais pequenas do que elas são. Quando existem riscas ou barreiras que não me deixam aproximar dos textos, quase não os consigo ler, ou tenho de me debruçar muito sobre eles, são sempre tão pequeninos. Não dá jeito nenhum ler textos muito compridos assim.

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    1. :) nem que fosse só por as pessoas não conseguirem, fisicamente, ler já valia a pena pensar em fazer textos mais curtos. textos compridos para legenda é do mais idiota possível. uma mesa não precisa de legenda, todos conseguimos perceber o que é, para que serve. um trabalho artístico bom, que consiga comunicar sozinho, pode ter legenda que a contextualize, que conte a sua história, mas um contexto nunca será comprido, parece-me. quando é comprido demais parece-me sempre justificação do injustificável, ao género das memórias descritivas escritas em cima do joelho porque tinha que ser.

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