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Tuesday, September 17, 2013

Pai,

A tua médica chama-se Petra. Certamente será coincidência, mas o nome assenta-lhe que nem uma luva. Quando acordares, vais perceber. Explicou-me que podia acontecer o "pior dos piores" ou o "melhor dos piores" acentuando que estava a simplificar a explicação para eu perceber. Pensei dizer-lhe que não fazia ideia de qual era o meu curso ou cursos, que eu estar de calças de ganga e ténis e descabelada era o fruto de andar à tua procura desde as 9h da manhã e ter tentado abrir a porta da tua casa sem sucesso, ter falado com polícia e bombeiros que arrombaram a tua porta de casa (desculpa por isso), ter corrido todos os cafés onde costumas ir, hospital e só ter parado naquele momento, no hospital e quarto em que te colocaram. Pensei dizer-lhe que mesmo que lhe dissesse o meu grau académico, isso não seria sinónimo de cultura e sabedoria imensa, é apenas um conhecimento específico, como o dela também é. Depois, lembrei-me que talvez não fosse muito boa ideia chatear uma das pessoas que controla uma das máquinas a que te ligaram. Achas que posso dizer-lhe depois de acordares? Dizemos-lhe os dois? Pois, também acho que não vale a pena. Temos mais que fazer.

Acho que te disse que o Centro Comercial Alvalade reabre este mês. Mas não tenho a certeza se te disse. Não sei se vão abrir o mesmo café a que nós íamos aos Domingos de manhã mas depois vamos lá ver. Tens é que te despachar a acordar para irmos lá. Sabes que a tua médica explicou-me que tu não me ouves? Tem muitas certezas, a tua médica. Eu acho que tu me ouves e vou continuar a falar contigo até acordares e vê lá se te despachas, tu sabes que eu não gosto nada de esperar, que quero tudo para ontem. Já sei que me disseste que tenho que aprender a esperar mas ainda não aprendi. Se queres tanto que eu aprenda, tens que me explicar como.

Entretanto, no caminho para casa da mãe, passei pela loja onde compraste o Panda gigante. Já não se chama Trenó e acho que é uma loja Chinesa ou qualquer coisa do género. Tenho muitas coisas para te contar. A tua vizinha disse que queria saber como estás mas não tenho o número de telefone dela e, não leves a mal, mas a senhora parece chata como a potassa.

Tive oportunidade de dizer-te muitas coisas mas não te disse o mais importante. Pensava que tinha mais tempo, logo eu que penso sempre que nunca tenho tempo suficiente. E ainda não te dei a tua prenda de aniversário, é um conjunto de fotografias antigas minhas e da Susana que ainda não consegui acabar porque não tive tempo, parece ser uma coisa recorrente. Hoje, vi na tua casa que tens todas as fotografias que te demos e tens também dos teus netos mas estão muito desactualizadas. Desculpa ter pedido aos bombeiros que arrombassem a tua porta de casa mas tu não respondias às chamadas e não apareceste no café como tínhamos combinado. Preciso mesmo que acordes, por favor.


Beijinhos,
Luísa

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