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Wednesday, September 4, 2013


Os dicionários são objectos incompletos.

Na minha infância, a minha mãe fazia uns desenhos de casas, em que haviam sempre duas janelas com cortinas abertas, um telhado de telhas às ondas, e uma porta muito grande. Ao lado, aparecia desenhado, inevitavelmente, um gato gordo sentado. Ao lado do gato, um baloiço. A casa não tinha cerca, aparecia sempre livre na página, suportada por uma linha horizontal onde o gato se sentava, com a cauda comprida a enrolar. A nossa casa estava longe dessa imagem. Vivíamos num prédio Lisboeta dos anos 50, alto, num 5º andar sem elevador. Mas tinha janelas sempre com cortinas abertas, uma porta grande para deixar os vizinhos entrar, num tempo em que os vizinhos se conheciam, conversavam e escutavam e até eram amigos e partilhavam histórias e preocupações. Tínhamos uma gata, gorda, mas não tão gorda como o gato dos desenhos da minha mãe. A casa sempre foi importante para a minha mãe, "é o lugar da família e onde recebes as pessoas que te são queridas" dizia-me.

A casa da minha mãe, percebi mais tarde, não é aquele 5º andar cheio de cantos e recantos, varanda longa, corredor onde a minha irmã e eu corríamos desenfreadamente. Também não é a casa das telhas ondeadas e do gato gordo. A casa da minha mãe não tem paredes e não aparece em mapas ou GPS. Foi, provavelmente, um dos melhores conceitos que aprendi até hoje com a minha mãe. Todas as casas de paredes são realmente lindas quando estamos verdadeiramente em casa.

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