O meu sobrinho mais velho, de 11 anos, tem uma página no facebook. Num dia, ficou com 72 amigos. Lá me apropriei mais uma vez do facebook da minha mãe, já que não tenho página lá, e perguntei-lhe se conhecia aqueles amigos todos. Respondeu-me que mais ou menos, que são todos da escola ou do clube onde joga futebol. Acrescentou que ainda só tem 72 amigos mas que vai ter muitos mais.
Perguntei-lhe se sabia quantos amigos tenho. Lançou um número: 500. Primeiro, pensei que aos olhos dele devo ser uma tia muito radical e popular porque 500 é um número exageradamente grande. Ao olhar para o número de amigos de cada um dos amigos dele (entre 200 e 1900), percebi que afinal, sou mesmo só uma tia trintona. Tentei explicar-lhe a diferença entre conhecidos (esses até podem ultrapassar os milhares se pensarmos na quantidade de pessoas que conhecemos em contexto social e profissional) e amigos (os meus contam-se pelos dedos de uma mão e considero-me privilegiada). Tentei ainda dizer-lhe que não interessa ter 1000 amigos no facebook se não falamos com eles na rua, na escola, em casa, se não sabemos nada deles e eles não sabem nada de nós. Quase posso jurar que, naquele momento, ele estava a falar (chamam-lhe falar isto de escrever em caixinhas com abreviaturas, lol's, k's que não sei o que significam e muitos sorrisos mesmo quando não se está a sorrir, parece que dá menos trabalho carregar nas teclas do dois pontos e do parêntesis do que mover os músculos faciais) com mais amigos, dos tais 72 e a pensar "lá está a minha tia com os sermões, não me chega a mãe....."
Não me chateia que tenha uma página no facebook. Mentira, chateia. Mas não é pelo acto em si mas mais pelas implicações. A ansiedade de ter mais amigos do que os amigos, sejam eles reais ou não, a necessidade de ter uma fotografia aprovada com o maior número de likes possível, a necessidade de justificar aos colegas da escola que só agora lhe foi permitido ter facebook, assustam-me. Porque o meu sobrinho faz parte de uma geração que valoriza amizades, não só irreais, como privilegiando a quantidade em detrimento da qualidade, que precisa de aprovação exterior de pessoas que desconhece, que fala mais facilmente atrás de um computador. Não consigo ver nada de positivo nisto.
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