O dia do Pai.
Não me lembro de ligar muito ao dia do pai mas nunca me esqueci e tinha quase sempre qualquer coisa pronta. Lembro-me de, muitas vezes, pensar que é uma estupidez esta sociedade de consumo, obriga-nos a comprar coisas e a ter dias especiais. A obrigatoriedade dos dias especiais faz-me sempre pensar que é porque não temos uma vida especial. E gosto de pensar que a minha vida é especial todos os dias, com os muito bons e os nada bons momentos que a fazem. Não gosto da sensação de ser obrigada a alguma coisa porque sim, porque há cartazes e flyers na rua que dizem para comprar bombons em forma de coração no dia dos namorados, flores no dia da mãe e gravatas no dia do pai. Não gosto que me imponham sorrisos nesses dias ditos especiais porque, numa vida, há dias em que não conseguimos ou não nos apetece sorrir, seja lá o que o calendário ditar.
Perante ideias tão definidas, é absolutamente idiota ter ficado com um nó quando vi escrito "dia 19 de março é dia do pai, não se esqueça". Porque este ano, pela primeira vez, não posso dizer que é uma estupidez e telefonar ao meu pai e dizer-lhe que é o melhor pai do mundo mas que não lhe estou a dizer isso por ser dia do pai e que temos que ir tomar café mas também não é por ser dia do pai. Não posso pedir à minha mãe que compre a camisa da cor que ele gosta (e que a minha mãe detesta) nem vasculhar as fotografias antigas para improvisar a colagem que não cheguei a fazer no ano passado. É idiota custar-me não poder telefonar ao meu pai no dia do pai. Ou talvez não. Talvez seja só o privilégio de ter uma vida especial, com pessoas que a tornam ou tornaram especial.
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