Dizem que os nossos sonhos e pesadelos expressam, muitas vezes, desejos e medos.
Lembro-me de ter um pesadelo recorrente, desde criança, em que era engolida pelo mar, afogava-me, deixava de respirar. Algum tempo depois, ficava a nadar debaixo do mar, com alguma aflição por saber que não podia voltar à superfície mas com alguma calma crescente pela beleza do fundo do mar, que só conheço por imagens.
Deixei de ter esse pesadelo há algum tempo. Agora, sonho imensas vezes com o meu pai, quase invariavelmente com ele a telefonar-me e eu a dizer-lhe para esperar, que tem mesmo que esperar, que eu sei que ele não pode ficar muito tempo lá do sitio de onde veio mas que tem mesmo que esperar um bocadinho e que fique onde está ou venha rápido porque precisamos de falar. A chamada cai e eu acordo. Outras vezes, ele vem, com um grande sorriso e eu abraço-o e digo-lhe que é tão bom que ele tenha podido vir porque eu tenho mesmo que falar com ele e ele sorri e o estúpido do sonho acaba e eu não tenho oportunidade de falar. Esta noite, houve uma variação. O meu pai veio todo sorridente dizer que afinal podia ficar connosco e eu disse que estava bem, que então íamos ter tempo para falar e tudo e não liguei muito, afinal havia tempo. Despedi-me dele como sempre me despedia, a olhar para trás até deixar de o ver, uma mania que tínhamos desde que era menina e só perdi aos meus 32 anos quando deixei de poder acenar-lhe. Olhei para trás e não é que ele estava no chão a ter o AVC que eu não vi mas que os médicos descreveram? Lá fui eu a correr e a dizer "oh pai, tu disseste que ficavas!" Não ficou. Nem na porcaria do sonho.
No comments:
Post a Comment