No outro dia, o meu sobrinho mais velho dizia-me "titi, preciso de um computador novo, assim um Mac como o teu, grande." O meu sobrinho mais velho tem 11 anos feitos há poucas semanas. Dizia-me que é um adolescente, não uma criança e o quão precisa de um computador para a escola.
Expliquei-lhe a diferença entre precisar e querer. Contei-lhe que a primeira vez que pude mexer num computador tinha 16 anos e era o computador da minha irmã, mãe dele, que ela, sim, precisava de um computador para os trabalhos do último de 5 anos da faculdade. Mexi no computador, mas usar só quando entrei para a faculdade, quando era de facto necessário e, mesmo assim, foi um uso partilhado com a minha irmã. Contei-lhe também que fiquei com o computador da mãe dele quando ela pôde comprar um. Contei-lhe como e quando comprei o meu primeiro computador. Não lhe contei como o escavaquei, depois dos dez meses que demorei a pagá-lo, porque estragava a história. No fim da história, o meu sobrinho ficou muito pensativo e virou-se para a PSP novinha, a jogar a qualquer coisa daquelas da FIFA (sim, sou Jurássica) e quase lhe perguntava porque é que não ía ler um dos meus livros antigos quando me lembrei que já tinha sido chata o suficiente para um mês e controlei-me, a custo. No dia seguinte, veio dizer-me que afinal não precisava de um computador novo e grande mas que, um dia, queria muito ter um computador igual ao meu e que iria jogar à bola como o Ronaldo (não sei se todos os rapazes agora querem ser futebolistas mas ele assegurou-me que é a profissão dos sonhos dele, e que não é por ganharem muito dinheiro - esta parte deve ter sido para não ouvir mais um discurso de uma hora) e assim poderia comprar o computador para ele e muitas prendas para a titi, os pais e a vóvó. Informou-me ainda que tinha pedido ao pai para ficar com o computador velho dele, para fazer os trabalhos da escola (aparentemente, agora, usam mesmo computador na Escola Preparatória).
E eu, fiquei a perceber a diferença entre aprender e ensinar. Pensei que lhe estava a ensinar uma grande lição e aprendi que uma criança de 11 anos sabe muito de partilha e de generosidade, no seu mundo, no seu contexto. Ensinou-me que as necessidades mudam com o tempo e que as minhas verdades e o meu contexto não é e não tem que ser o dele. Ensinou-me que há crianças que sabem que podem ter muita coisa e, mesmo assim, escolhem não ter tudo, porque, realmente, não precisam de ter tudo para ser tudo.
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