Há uns dias, ouvi uma conversa que gostava de não ter ouvido mas, infelizmente, os meus ouvidos não são nada selectivos e nem sempre consigo imaginar o silêncio absoluto, que é tão bonito. Uma senhora, nos seus quarenta e muitos dizia, de outra (que estava perto dela, o suficiente para não ter como não ouvir, mesmo com ouvido selectivo, se for o caso) qualquer coisa como: "ah, ela não tem trabalho nenhum! Sabe quantos filhos tem, sabe? Zero. Zero filhos. Quem não tem filhos, sabe lá o que é trabalho."
Não vou divagar muito sobre a questão de "quem não tem filhos não tem trabalho" que me lembra outra frase que tenho ouvido mais vezes do que gostaria "quem não tem filhos não sabe o que é amar incondicionalmente." Não posso concordar ou discordar porque não tenho filhos. Logo, não tenho termo de comparação. Não é isso que me interessa. Interessa-me perceber porque é que as pessoas precisam tanto de fazer estas comparações e, ao fazê-las assim, como se nada fosse, esquecem uma coisa bastante simples: nem toda a gente que não tem filhos, não os tem por escolha própria, por birra, por vontade, para ter uma vida fácil e livre. Não saberem se isso do amor incondicional é mesmo verdade ou não, pode ser uma tortura para as pessoas que o ouvem e que até poderiam gostar de ter filhos mas simplesmente não podem tê-los, sejam quais forem as razões. Não sendo o meu caso pessoal não ter filhos porque não posso, parece-me de uma insensibilidade atroz dizer este tipo de coisas como se fossem verdades absolutas sem pensar no que o outro vai sentir. Como alguém que me tem ensinado muitas coisas disse outro dia (a citar alguém que não sei o nome): "Se vais quebrar o silêncio, que seja por uma boa razão".
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