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Friday, March 8, 2013




e por isto, também pagámos?


Texto de Pedro Bidarra

"A campanha de reeducação de massas, veiculada no sitevisitportugal.com, é uma coisa tão bafienta, tão neo estado-novo, tão “Ó tempo volta p'ra trás”, que não me admirava que os verso da Grândola (sem eu querer) começassem a aparecer pelo meio deste texto (ver vídeo aqui).

O filme começa com dois estrangeiros suspirando pela Ana. “Ai a Ana, ai a Ana”, dizem. “O melhor de Portugal foi a Ana.” E quem é a Ana? Uma rameira? Uma portuguesa comum? A sua filha?
Desconfio que se trata da sua filha, caro leitor. E o Turismo do governo de Portugal quer que ela e os outros portugueses todos, para além do couro e do cabelo que dão aos credores, dêem também o corpo e o conho a quem nos visita.
Este parece ser o objectivo desta indigna campanha, assumida, pelo próprio Turismo, como campanha interna. Uma campanha que visa (imagine-se) educar os portugueses na servidão. É uma campanha que nos incentiva a sermos rameiras e gigolôs ao serviço de quem vem de fora. Uma campanha que reforça a ideia de Portugal como país de serventes sorridentes e lavados, prontos para todo o serviço; que reforça a ideia de um povo criado para ser criado; uma ideia enraizada já por esse mundo fora e que, como estudos demonstraram (como se não bastasse o bom senso), nos retira valor. Uma imbecilidade, portanto.
Mas apostar no valor económico da subserviência parece ser a estratégia do Turismo do governo de Portugal. E para tal, vai de fazer o impensável: uma campanha de doutrinação e reeducação de massas; à boa maneira nazi/estalinista.
No filme, para além dos bifes que suspiram de saudades pelo docinho da Ana, ainda se vê uma holandesa que, vinda a Portugal jogar golfe, acabou enrolada com um português; vêem-se duas francesas a recordar a maneira delicada como o senhor António arrumava as toalhas e tinha as camisas bem passadas e tratava da casa-de-banho; vê-se o pobre do Avillez a servir à mesa, tão simpático, tão deferente, tão pouco chef e tão criado; vê-se um senhor de meia idade que sofre de uma estranha compulsão para a subserviência e se manifesta a fazer de guia a uma família de brasileiros. Vêem-se criados. Criados. Só criados, nada mais. Nada de digno, criativo, inteligente, elevado, aspiracional. Só criados.
Esta indecorosa ofensa, esta imbecilidade, esta falta de competência, bom senso, valores e escola, conclui-se com uma citação de Fernando Pessoa. Mas não é bem uma citação de Fernando Pessoa. É um sucedâneo, uma citação tipo-Pessoa. Em vez de “Põe quanto és no mínimo que fazes”, lê-se o erro “ Põe tudo o que és na mais pequena coisa que fazes”.
Tudo o que aquela gente do governo de Portugal é, pôs nesta campanha; e não é nada de bom.
Nunca me senti tão envergonhado com uma coisa feita em meu nome."
Publicitário, sociólogo e autor
Escreve à sexta-feira
Escreve de acordo com a antiga ortografia
link para o texto: http://www.dinheirovivo.pt/Buzz/Artigo/CIECO109834.html?page=0

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